Nas últimas semanas, aconteceu mais uma daquelas polémicas absolutamente desnecessárias na área da Educação, em boa parte como resultado de pretensas boas intenções decorrentes de uma concepção de tolerância, inclusão e politicamente correto que deixa muito a desejar.Refiro-me a uma escola que decidiu, nesta quadra festiva, eliminar sinais exteriores de ligação à tradição cristã específica do Natal nas fotografias feitas com os alunos. Fotografias que são realizadas tradicionalmente nesta altura, por ser… Natal. Desta vez, foi solicitado que o fundo e elementos decorativos usados fossem “neutros”, porque, de acordo com uma notícia “nem todas as famílias assinalam o Natal por razões culturais, religiosas ou pessoais e que, nesse sentido, a opção por um fundo neutro procurou criar um ambiente inclusivo para todas as crianças”.Se consigo entrever a eventual preocupação existente, não posso estar de modo algum de acordo com a solução “uniformizadora”, disfarçada de “inclusiva” a que se recorreu. Porque haveria, no mínimo, um par de possibilidades evidentes de tornear a situação: consultar os encarregados de educação que não pretendessem as fotos com temas natalícios (e nesse caso poderia ser usado o tal cenário “neutro”) ou que nem sequer quisessem fazer parte da iniciativa. Porque ser “inclusivo” não significa apagar identidades, homogeneizá-las em tons de pastel, mas dar a liberdade de cada um@ escolher a sua forma de manifestar as suas tradições culturais ou religiosas. Por exemplo, permitindo que alunos não-cristãos tenham fotografias com motivos próprios apropriadas à sua identidade e contexto.Que fique claro que sou um agnóstico que procura respeitar as crenças alheias, porque a Fé religiosa é algo que faz parte da identidade de um número importante de indivíduos e, mesmo não partilhando nenhuma, acho que todas elas devem ter a liberdade de se expressar de forma pacífica. A tolerância é isso, assim como a “inclusão” é incorporar as diferenças numa convivência partilhada e não esbatê-las numa simulação errada de falso ecumenismo.As escolas devem ser exemplos de uma vivência plural, sem imposição de soluções do tipo “marca branca”. Os cristãos devem poder festejar o seu Natal, assim os muçulmanos o Eid al-Fitr (fim do jejum do Ramadão), os judeus o Hanukkah, os hindus o Diwali (estas duas últimas até partilham a designação corrente de Festival das Luzes), assim como outras comunidades que tenham as suas datas especiais de celebração. Achar que “inclusão” é escolher roupa creme para todos os bebés, para acautelar o sexo ou futura identidade de género de cada um, é um equívoco triste que só serve, de forma paradoxal, para exacerbar sentimentos de exclusão.