Não aceitar o silêncio perante o genocídio

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Depois de ter lançado mais de 85 mil toneladas de bombas sobre a Faixa de Gaza, Israel procura impedir a acção da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA). 

Esta decisão desumana e intolerável tem impactos dramáticos na vida dos palestinianos na Faixa de Gaza, mas também noutros territórios palestinianos ocupados. Centenas de milhares de palestinianos poderão ficar sem ajuda humanitária e enfrentarão uma ainda maior degradação das suas já débeis condições de vida.

O comissário-Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, descreve a situação na Faixa de Gaza como um “puro inferno” e afirma que aquela decisão do Parlamento israelita só aprofundará o sofrimento do povo palestiniano, colocando em risco toda uma geração de crianças.

O próprio secretário-Geral da ONU, António Guterres, considerou que a implementação desta decisão pode ter consequências devastadoras para os refugiados palestinianos.

A devastação provocada pela guerra e pela política genocida de Israel e a crueldade desta decisão do Parlamento israelita, mesmo assim, não são suficientes para comover o Parlamento Europeu. Perante uma proposta, apresentada pelo PCP, para que se debatesse em Sessão Plenária aquela decisão e as suas desumanas consequências, a maioria dos deputados no Parlamento Europeu recusou o debate.

Este é apenas mais um exemplo (infelizmente, não será certamente o último) da hipocrisia da União Europeia face à guerra e da forma como tem fechado os olhos ao genocídio do povo palestiniano, mantendo a impunidade de Israel e as ligações políticas com o Governo de extrema-direita de Netanyahu.

Contrariando este silêncio cúmplice e conivente da UE, ouviu-se no Parlamento Europeu a voz de quem intervém de forma solidária em defesa dos direitos do povo palestiniano.

Durante dois dias, representantes de organizações palestinianas, de organizações internacionais, nomeadamente da ONU, ou do movimento da paz e de solidariedade, entre outras, juntaram-se no Parlamento Europeu numa iniciativa promovida pelo PCP, em conjunto com outras delegações do Grupo Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Verde Nórdica - A Esquerda no Parlamento Europeu.

Os testemunhos de quem intervém directamente no terreno são particularmente chocantes. A descrição das condições de vida de milhões de pessoas remetidas para a luta pela sobrevivência é avassaladora. A barbaridade do quotidiano da guerra imposta por Israel assume proporções inimagináveis quando se ouvem, entre outros, relatos do sistemático assassinato de crianças palestinianas ou a dureza da decisão de sujeitar crianças a cirurgias para lhes salvar a vida sem que haja anestesia disponível.

Em alguns daqueles relatos pressente-se a voz de um povo que se vê sujeito ao extermínio perante a passividade de quem o rodeia.

A decisão de levantar, agora, a voz em defesa do povo palestiniano e dos seus direitos é a possibilidade que temos de lutar para que não seja assim.

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