Mais um 'tsunami' para o tigre celta?

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As promessas da política tarifária de Trump face à UE preocupam. É verdade que quando iniciou o seu primeiro mandato, muitas das suas promessas mais agressivas ficaram pelo caminho. Mas, se impuser de facto tarifas entre 10 a 20 % a importações da Europa e baixar o imposto local sobre o rendimento das empresas para 15%, todo o bloco sofre, em particular a Alemanha e a França face ao mau momento que atravessam. Mas há uma economia onde o impacto pode ser devastador.

A Irlanda tem feito gala em ganhar força cavalgando os EUA. Graças a fiscalidade atrativa, mão-de-obra altamente qualificada, estabilidade económica ou o acesso aos mercados europeus e aos EUA sem taxas, o stock de IDE na Irlanda representava 254% do PIB no final de 2022, aproximadamente quatro vezes a média da UE, com 38% originários dos EUA através de grandes nomes como Apple, Google, Meta, Microsoft, Dell ou Pfizer.

O efeito desta onda de IDE americana para uma pequena economia foi fantástico, levando o PIB per capita  (PPP) da Irlanda para 212 (UE índice 100) em 2023 e sempre acima de 180 desde 2015. Para além do IDE, a Irlanda é, de longe, o país da UE que mais exporta para os EUA - 27% das exportações totais e 45,8% de todas as exportações extra UE, quando a média do bloco é inferior a 20%. Impressionante.

A Irlanda andou anos como uma rémora a navegar confortavelmente nas costas da baleia. Mas agora a baleia ameaça emergir, saltar e sacudi-la ... O risco de saída das empresas americanas é relativo: passaram décadas a investir na Irlanda, a construir forças de trabalho e infraestruturas e têm aqui uma porta de entrada para a Europa.

Mas o aumento de tarifas é outra história. A importância dos EUA para as exportações irlandesas é como vimos brutal, cresce cada vez mais, 19% em Q1-Q3 2024 vs. 2023, e as tarifas representam uma ameaça muito concreta, não obstante os efeitos que Trump terá de considerar no seu próprio solo como a inflação.

A Irlanda está consciente do que a pode esperar, mas está pronta para lutar. Nas palavras do primeiro-ministro Simon Harris ao Irish Times: “Dez multinacionais representam 60% das receitas de impostos de empresas na Irlanda e se três empresas norte-americanas saíssem da Irlanda poderia custar-nos 10 mil milhões de euros em receitas fiscais. No entanto, estaríamos preparados e lidaríamos com a situação como fizemos com o Brexit, o covid e a crise do custo de vida.” E é verdade que o Tigre Celta já caiu e se levantou várias vezes nas últimas décadas em situações piores ...

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