Lisboa, onde hiPocriSia rima com PS 

Publicado a

Poucas invenções foram tão preciosas quanto a democracia liberal. À parte de uns quantos lunáticos com presença mais ou menos marginal, creio que todos podemos concordar com isto. Mas para que esta invenção funcione bem, precisa de uma dinâmica particular: de um equilíbrio entre um governo e uma oposição responsáveis. 

A parte da oposição é particularmente importante. Se esta fizer uma política irresponsável, demagógica, de destruição e bloqueio – de “terra queimada”, como por vezes se diz -, deixamos de ter democracia liberal e passamos a ter exatamente o que ela tinha substituído: o tribalismo. Infelizmente, em Lisboa a oposição deixou-se vencer pelo tribalismo. O último artigo do Presidente da concelhia de Lisboa do PS, para o DN, demonstrou isso mesmo. 

Acusa-se o Presidente da Câmara, Carlos Moedas – tratando-o desde logo por tu, como se não se estivesse a dirigir a uma figura institucional, representante de todos os lisboetas, mas a um amigo desavindo da escola –, de falta de concretização real. É extraordinário onde pode chegar a hipocrisia: tentam dar lições aqueles que, durante 14 anos a governar Lisboa, nunca fizeram o Plano de Drenagem, que construíram apenas 17 casas por ano durante uma década, ou que adiaram projetos estruturais de habitação como o Casal do Pinto, o Vale de Santo António ou a Quinta do Ferro. O executivo municipal, que os socialistas criticam, implementou transportes públicos gratuitos para os mais novos e os mais idosos, assegurou mamografias gratuitas às mulheres lisboetas com menos de 50 anos, criou um plano de saúde gratuito para os mais idosos, entregou 2700 casas a famílias lisboetas – em apenas 4 anos…  

O PS diz que bloqueou a isenção de IMT e que fez bem. Só isto diz tudo: o grande feito do PS é… que não deixou fazer. Mas já que têm orgulho do que impedem, eu ajudo. Porque não foi só esta medida que bloquearam. Chumbaram também a construção de 1000 camas em preço acessível em novas residências universitárias, apenas porque seriam construídas por privados. Tiraram a 1000 estudantes deslocados a oportunidade de encontrar um quarto em Lisboa – e fizeram-no por mero capricho ideológico. Isto sim, é radicalismo. 

Falam do Plano de Saúde, que serve 16 000 idosos lisboetas, com desdém por serem apenas 16 600. Se calhar também preferiam que fosse 0 – mais uma vitória para um PS que não fez, nem deixa fazer. Com a deterioração do Estado Social que 8 anos de governo PS no país significou, talvez o desejem mesmo. Tal como parecem desejar uma Lisboa mais insegura, ou não estavam todos – com Alexandra Leitão à cabeça – a manifestar-se contra a Polícia em janeiro? Fizeram-no ao lado dos radicais que querem o caos em Lisboa e no país – e isto não é uma perceção. 

Falam do Conselho de Cidadãos, porque a sua visão tão achatada e pequena da democracia faz pensar que são eles os donos da democracia e que as pessoas só devem participar quando é para defender o PS. Mas a vida democrática não é assim. Graças ao Conselho de Cidadãos, têm sido ouvidas pessoas que nunca seriam ouvidas nos canais tradicionais. Graças ao Conselho de Cidadãos, Lisboa tem hoje uma nova rota de autocarros noturna e prepara-se para lançar uma aplicação de busca de emprego para os lisboetas. 

Quanto à lista para o executivo, que tanto criticam, caberá às pessoas avaliá-la no dia 12 de outubro. Mas apetece dizer que também não se vê muitos ex-vereadores do PS na candidatura – será por “insegurança e o reconhecimento de quem sabe, no seu íntimo, que falhou”? Ou será essa insegurança que leva o PS a gabar-se das soluções que impediu, a agitar os espantalhos habituais sobre a direita e a atacar o atual presidente Moedas? À falta de melhor, o PS dá mais do mesmo – e sobre a cidade, o vazio a que já estamos habituados.  

O exercício é muito fácil e as comparações são também elas fáceis de fazer: não tomará muito tempo a perceberem-se as diferenças entre a lista apresentada pela coligação Por Ti, Lisboa, que alia a solução dos Novos Tempos, com PSD e CDS, à IL, e a do Bloco da Esquerda, que junta os pedro nunistas do PS a Mórtágua, ao Livre e ao PAN.  

Nesse dia 12 de outubro, a escolha dos lisboetas será clara. Por um lado, a moderação que mostrou saber fazer ou o radicalismo de quem confunde ser oposição com ser do contra (tão bem exemplificado no texto do Presidente da concelhia do PS); a competência que tem provas dadas ou a partidarite; a ponderação de Carlos Moedas ou a impulsividade de Alexandra Leitão. Os lisboetas escolherão. 

Deputado municipal do CDS e candidato à assembleia municipal pela coligação Por Ti, Lisboa 

Diário de Notícias
www.dn.pt