A greve geral de 11 de dezembro não surgiu do nada, nem é um episódio isolado na vida do país. É, antes de mais, o reflexo de um clima social profundamente deteriorado, onde a frustração coletiva se tornou o denominador comum entre profissionais da saúde, professores, forças de segurança, trabalhadores dos transportes, funcionários judiciais e tantos outros setores do Estado.Os portugueses acreditaram nas promessas que lhes foram feitas. Acreditaram que a mudança política resultaria, finalmente, em melhores condições de vida e de trabalho. Mas essas promessas transformaram-se em silêncio, adiamento ou retrocesso. Hoje, vivem com salários que não acompanham o custo de vida, com serviços públicos à beira da rutura e com a sensação de que o Estado, em vez de os proteger, os empurra para uma vida cada vez mais difícil.É preciso dizer a verdade: grande parte destas greves são protagonizadas por funcionários públicos, que não correm risco de despedimento, mas cujas ações têm impacto direto e imediato na vida dos cidadãos, contribuintes e eleitores. Um país não pode funcionar permanentemente em clima de suspensão, mas também não pode ignorar o descontentamento generalizado daqueles que mantêm o Estado a funcionar.Enquanto deputado, e enquanto cidadão, desejo que Portugal não pare. Ninguém ganha com um país parado, nem as famílias, nem as empresas, nem a economia que já vive pressionada por um ciclo de estagnação. Mas não podemos fingir que não existem razões para esta contestação. Há um país inteiro que se sente abandonado nas suas dificuldades e desrespeitado nas suas expectativas legítimas.O CHEGA fez tudo o que estava ao seu alcance para evitar que a greve fosse convocada, disponibilizando-se para negociar alterações à lei laboral. Mas o Governo escolheu o caminho mais fácil e mais perigoso: uma visão antiquada que transforma o mercado laboral numa selva, onde os que trabalham se sentem descartáveis e desvalorizados.Ao insistir numa lei que dá a sensação de que o trabalhador “não vale nada”, o Governo comete um erro político, social e humano. Numa altura em que tanto se fala de combater a subsidiodependência, é contraditório apresentar propostas que fragilizam quem trabalha e quem sustenta o país.E enquanto isto acontece, assistimos ao que chamo de “mau sindicalismo”: comboios suprimidos antes da própria greve, utentes prejudicados, famílias que pagaram passes e ficaram sem transporte. A luta laboral é legítima mas nunca pode esquecer que existe uma sociedade inteira que depende de serviços essenciais.Quanto à economia, ouvimos agora o Governo falar em salário médio de 2500 ou 3000 euros. Sou o primeiro a reconhecer que é urgente aumentar o salário médio que, aliás, se aproxima perigosamente do salário mínimo. Mas isso depende de crescimento real, de uma estratégia económica séria e de investimento produtivo. Nada disso está a acontecer. Até agora, não vimos uma única medida económica capaz de mudar o rumo do país.Portugal está cansado, e com razão. A política não pode continuar alheada da ideia de serviço, transformando-se num instrumento de desconfiança e desigualdade. O papel dos responsáveis políticos é impedir que o país resvale para a desagregação social e hoje, infelizmente, vemos exatamente esse risco.A greve geral não é apenas um protesto. É um alerta. É o país a dizer que não aguenta mais promessas vazias, reformas incompletas e decisões erradas.E enquanto deputado, reafirmo: estarei sempre ao lado dos portugueses que trabalham, pagam impostos, sustentam o Estado e exigem respeito. Portugal não merece parar. Mas muito menos merece continuar a viver assim. Economista e deputado à Assembleia da República pelo Chega