Fazer com o dinheiro dos outros

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Em vésperas da discussão do Orçamento da Câmara Municipal de Lisboa, a esquerda procura pasto fértil para as suas tradicionais acusações demagógicas e, nesse seu propósito, vale tudo.

Agora, o coro engrossa a voz para acusar o Executivo de Carlos Moedas de chantagem. Chantagem para com as juntas de freguesia.

Aparentemente, a esquerda entende que, ao não receber as verbas desejadas pelas juntas de freguesia de esquerda, Carlos Moedas está a coartar-lhes a hipótese de fazerem o seu trabalho. Sim, porque gerir uma junta com o dinheiro da câmara é sempre mais fácil.

Para a esquerda autárquica, parece que só é possível fazer com o dinheiro dos outros.
E aqui reside um primeiro paradoxo: é que a quintessência de um autarca deve ser transformar um euro de impostos em vários euros de serviços.

Aliás, num país em que a esquerda levou o Estado à bancarrota, como poderiam ser as juntas de freguesia a exigir que só funcionam se lhes derem o dinheiro para funcionar?
E que raio de autarcas somos, se só estamos disponíveis para fazer ao recebermos o dinheiro exato para tal?

De norte a sul do país somos premiados com excelentes exemplos de autarcas que, com muito pouco, prestam excelentes serviços às comunidades que servem. 
E a reforma administrativa da cidade de Lisboa foi construída sobre a vontade de implementar um novo paradigma de autonomia da gestão financeira, algo que os autarcas da reforma tiveram 12 anos para concretizar.

Não querendo apontar o dedo a ninguém em particular, usarei o meu exemplo para fazer prova desta minha tese.

Se tivesse ficado à espera do dinheiro da câmara, não teria reabilitado o complexo desportivo da Lapa, devolvendo-o à prática desportiva da comunidade que sirvo. Só mais de cinco anos após a sua reabilitação é que a câmara socialista premiou a minha iniciativa de reabilitação do (seu) património com, apenas, metade do investimento que já havia sido realizado.

Adicionalmente, numa altura em que as juntas socialistas criticam a higiene urbana na cidade (da qual são corresponsáveis), a Estrela vai construir um novo posto de Higiene Urbana (HU). Sim, nesta primeira fase serão mais de 600 mil euros de verbas próprias da junta.

E não ficámos à espera do dinheiro dos outros, até porque, segundo informação obtida no mandato de Medina (PS), o Executivo socialista negociou com o Metro uma indemnização com base na área que vai ser retirada do património municipal e não com base no custo da necessária reconstrução do posto de HU que o Metro demoliu (gestão socialista no seu melhor).

Na Estrela não só vamos investir em mais viaturas elétricas para a HU, como também reabilitámos infraestruturas para receber uma escola do 1.º ciclo. Sempre com verbas próprias.

Tudo isto foi possível porque compreendi o novo paradigma e assegurei uma autarquia (a JF de Estrela) com autonomia financeira.

Porque um autarca que faz chantagem é um autarca que deixou de o ser, já que só sabe fazer com o dinheiro dos outros.

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