Eric: o amigo imaginário que eu gostava de ter!

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Eric é um monstro. É um amigo imaginário de uma criança desaparecida, desenhado por ela, e que o seu pai adota para o ajudar na demanda para recuperar o seu filho. 

Eric é a nova série da Netflix que nos oferece uma viagem no tempo e no espaço. 

No espaço porque nos atira para uma Nova Iorque velha, suja, corrupta e racista. E no tempo, porque o cenário se constrói nos idos anos de 1980. E sempre que saltam para fora do meu écran enredos que nos transportam para este universo temporal, a minha atenção redobra.

A receita é conhecida, mas é boa. Stranger Things (2016) e Super 8 (2011), por exemplo, transportam-nos para o tempo das camisas de flanela aos quadradinhos, dos walkmans e das cruiser bikes. E Eric faz igual. E ainda soma a esta receita um pai que é um Quase-Lloyd Morrisett, um criador de fantoches, ao estilo Sesame Street, que lidera audiências na televisão da época, profissão que foi absorvida pelos criadores digitais. Bonecos de peluche operados pelas nossas mãos, é coisa do passado. Mas também é isso que traz originalidade. Muitas vezes ser original não é criar nada de novo, é só olhar para trás e reinterpretar o mundo. Eric também tem isso, essa originalidade de trazer de volta coisas que (quase) já não existem e se calhar já nem fazem mesmo sentido existir. É tão original que nos esquecemos que em tempos a animação na televisão eram mãos invisíveis que mexiam coisas, eram vozes escondidas que davam personalidade a invólucros de peluche e eram ferrinhos finos que davam vida a braços, a bocas e a expressões corporais.

A ideia de ter um amigo imaginário que é raptado do imaginário de outra cabeça é genial! E quando vemos Eric pela primeira vez, percebe-se que este monstro azul não é só um ponto de partida para desbravar um mistério sobre uma criança que desaparece a caminho da escola, é também o início de um enredo rocambolesco de outras pequenas estórias que fazem da estória da criança desaparecida, uma estória de suporte a todas as outras. 

Eric não é uma estória sobre um boneco nova-iorquino de 1980. Não! Eric é um alibi para se tratar temas antigos, mas que continuam presentes. É um saltar entre o possível e o impossível, entre o irreal e o físico.

Eu não me lembro se tive ou não um amigo imaginário, ou se em criança fui ou não transportado para um universo paralelo como n’O Sítio das Coisas Selvagens (2009), mas nos dias que correm, ter um monstro azul que nos chamasse à verdadeira razão das coisas, dava um jeito bestial. E quiçá, também nós conseguíssemos o nosso final Spielberguiano, em que no fim, afinal, tudo se resolve! 

Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia

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