I. O assassinato de Charlie Kirk, conhecido ativista conservador, é mais um episódio que comprova o clima de polarização extrema e de violência política nos Estados Unidos. Vivemos tempos perigosos, em que uma grande parte da população não consegue conviver com opiniões diferentes. Em Portugal, ainda estamos longe do que se passa nos Estados Unidos, mas a polarização também existe e tem sido crescente. Junte-se a isso um certo relativismo que faz com que muitos já não distingam entre o certo e o errado e temos a receita perfeita para o desastre. O tribalismo político faz com que muitos justifiquem comportamentos antiéticos, desde que partam do “seu” lado. Precisamos, enquanto sociedade, de voltar a fazer uma diferenciação clara entre o Bem e o Mal, entre aquilo que é aceitável e o que não é. Esta distinção deve assentar em princípios éticos que possam ser partilhados por todos.Ao contrário da lei e da moral, a ética tem uma vocação universal, que não se prende a determinado país, sociedade, sistema político, cultura ou religião. Agir de forma ética implica não lesar. Usar violência contra outra pessoa, lesando-a na sua integridade física e moral, não é um comportamento ético, mesmo que essa pessoa seja criminosa ou defenda ideias que consideramos abomináveis. A violência apenas se justifica quando agimos em auto-defesa, isto é, quando alguém atua de forma violenta contra nós. E, ainda assim, deve estar sujeita ao princípio da proporcionalidade.Esta mensagem tem de ser passada e reforçada, sobretudo junto das gerações mais novas, que muitas vezes se deixam levar por extremismos. E que já nasceram e cresceram num mundo onde as redes sociais desempenham um papel central na vida pública e alimentam a crescente polarização. Muitos jovens (e outros mais velhos) parecem achar que têm o direito a não ser ofendidos com as ideias dos outros. Este é um princípio muito perigoso, que, se for levado ao limite, torna impossível a vida em sociedade. Precisamos também de voltar a atribuir a cada vida humana exatamente o mesmo valor - incomensurável -, contrariando uma certa tendência para o relativismo também nesta área. Para lamentarmos a perda de uma vida, devia ser suficiente saber que a pessoa X ou Y foi assassinada. Não precisamos de saber se era branca, negra, asiática, transgénero, heterossexual, gay, católica, muçulmana, liberal, socialista, conservadora, do Futebol Clube do Porto ou do Benfica. Antes de sermos essas coisas, todos somos humanos e isso deveria ser suficiente, tanto para este efeito como para tudo o resto. Que seja necessário recordar tal evidência, neste ano de 2025, diz muito sobre os tempos que vivemos.II. É nesse contexto de polarização crescente, que se manifesta de forma cada vez mais visível, que as sondagens ganham um novo significado em Portugal. O barómetro da Aximage para o DN é relevante por essa razão. Pela primeira vez, o Chega surge em primeiro lugar nas intenções de voto, embora ainda dentro de uma margem de erro que se traduz num empate técnico com a AD. Veremos se esta tendência se irá manter ou se, pelo contrário, se trata de uma situação momentânea que se explica com uma descida da AD na sequência da atuação do Governo nos incêndios florestais. Com meio país a arder, o primeiro-ministro Luís Montenegro foi visto a passar férias no Algarve. Esta imagem levará o seu tempo a desaparecer da memória dos portugueses, se é que alguma vez tal poderá acontecer.O barómetro da Aximage inclui outro resultado que merece ser referido, que é o facto de André Ventura surgir destacado como principal figura da oposição, à frente de José Luís Carneiro e dos outros líderes partidários. A manterem-se estas tendências - e a serem confirmadas por outros estudos de opinião -, poderemos estar no início de uma nova fase, com implicações profundas para o nosso sistema político-partidário.