Parece algo simples e básico: os bebés e as crianças precisam de tempo com a sua família. Mas não, levamos uma vida desenfreada e pais - e sobretudo mães - trabalham horários incompatíveis com o acompanhamento saudável do crescimento das suas crianças. Este é um problema estrutural, com consequências enormes na saúde mental de mães e pais, que compromete o desenvolvimento e a felicidade de bebés e crianças, e que tem também consequências económicas e de desenvolvimento do país a curto, médio e longo prazo.Inacreditavelmente, em vez de procurar resolver este problema, a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social escolhe apontar o dedo às mães que amamentam e tornar ainda mais difícil recusar horários à noite, fins de semana e feriados - tempo que devia ser reservado às crianças. Claro que a onda de indignação foi enorme e geral. Qualquer pessoa com crianças pequenas sabe a exasperação que é o dia-a-dia e a frustração de ter tão pouco tempo. Os dias são consumidos pelo trabalho e em tarefas domésticas e sobra muito pouco para simplesmente estar em família - ou sequer para estarmos com nós mesmos, que é tão importante.Parece-me sempre que partimos do ponto errado da discussão, porque o ponto de partida deveria ser o dos direitos das crianças - são os seres mais vulneráveis e cada criança é responsabilidade de todos nós. E partindo desse ponto há vários pressupostos que são claros: os bebés e as crianças pequenas precisam de um clima familiar estável para estabelecer vínculos e portanto de mais tempo em família, e as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre amamentação devem ser seguidas. Partindo desses pressupostos a posição é óbvia: a licença parental paga a 100% deve ser alargada para que o bebé possa - se for essa a dinâmica da família - estar em casa no seu primeiro ano, para que seja possível ser amamentado em exclusivo nos primeiros seis meses, para que não haja uma disrupção de rotinas aquando do fim da licença de um dos progenitores. E a redução do horário de trabalho deve acontecer para todos os trabalhadores com filhos pequenos, sejam ou não amamentados.O que hoje acontece é, na prática, uma desigualdade entre bebés e entre famílias. Um bebé de uma família que se possa dar ao luxo de tirar a licença alargada tem mais tempo com a mãe ou com o pai do que um bebé cuja família não possa abdicar de qualquer rendimento. Uma criança pequena amamentada tem mais tempo com a sua mãe (e bem) mas todas as outras veem as mães e os pais a trabalhar a tempo inteiro. Como aceitamos esta injustiça para crianças que acabaram de chegar ao mundo?Ser pró-família e pró-natalidade é respeitar os direitos das crianças e as necessidades das famílias e garantir as condições para que mães e pais tenham uma vida tranquila e digna. Qualquer alteração ao código do trabalho tem de ter isso em conta. O anteprojeto que o governo apresentou em pleno período de férias vai exatamente no sentido contrário e Maria do Rosário da Palma Ramalho não faz jus ao nome do seu ministério.Líder parlamentar do Livre