E se a paciência de Trump com Putin se esgotar?

Publicado a

Um dia depois de ter garantido que Vladimir Putin “ficou completamente louco”, Donald Trump reagiu na sua rede Truth Social a mais uma noite de ataques maciços contra território ucraniano com uma ameaça pouco velada contra o presidente russo: “O que Vladimir Putin não percebe é que, se não fosse eu, muitas coisas muito más já teriam acontecido à Rússia. Ele está a brincar com o fogo.” Mais de quatro meses depois de ter chegado à Casa Branca, o presidente americano - que na campanha prometera resolver a guerra na Ucrânia “em 24 horas” - parece estar a ficar sem paciência para a atitude do homólogo russo.

Mas nem sempre a relação entre o milionário e o ex-espião do KGB foi tão fria. Bem antes de lançar a sua primeira candidatura à presidência já Trump se desfazia em elogios a Putin. Em 2007 afirmava: “Quer se goste ou não se goste dele, está a fazer um excelente trabalho na reconstrução da imagem da Rússia.” E em 2014, ano em que a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia, garantia que o senhor do Kremlin “fez um trabalho fantástico ao assumir o comando. Muito inteligente”. A chegada à Casa Branca, em 2017, só veio reforçar a boa opinião de Trump sobre Putin, que descreveu como “pessoa séria que sabe ouvir”.

Mas ao voltar ao poder, o “génio” “sagaz” que Trump saudou em 2022, aquando da invasão da Ucrânia, parece ter perdido o lugar especial no coração do presidente dos EUA, que passou a repetir que “a Rússia vai estar em grandes apuros” económicos e que Putin “não se está a sair muito bem”, pelo que “seria bom, para ele, acabar com esta guerra”.

Do lado de Moscovo, a reação oficial às últimas críticas de Trump foi de desvalorização, com o Kremlin a falar numa “natural sobrecarga emocional” de todos num momento crítico para a paz na Ucrânia. Mas a reação oficiosa veio pela voz de Dmitri Medvedev, o homem que assumiu a presidência quando Putin teve de a deixar, entre 2008 e 2012, ficando como primeiro-ministro, e que nos últimos anos se tornou uma espécie de altifalante sem filtros do que pode ir na cabeça do presidente russo. “Em relação às palavras de Trump sobre Putin de ‘brincar com o jogo’ e sobre ‘coisas muito más’ que podem acontecer à Rússia... Eu apenas conheço uma COISA MUITO MÁ - a Terceira Guerra Mundial”, ameaçou Medvedev.

Entretanto, entre trocas de palavras e a continuação dos ataques russos , a paciência de Trump parece ir-se acabando. Mas o que é que vai fazer se esta chegar ao fim? O próprio já ameaçou saltar fora das negociações e deixar russos e ucranianos por sua conta - e dos europeus. Uma perspetiva pouco animadora, mas menos má do que a alternativa. É que se poucos duvidam de que, num confronto militar direto entre as duas maiores potências nucleares, os EUA são mais fortes do que a Rússia, as consequências para a Europa, e para o mundo, seriam devastadoras.

Editora-executiva do Diário de Notícias

Diário de Notícias
www.dn.pt