E já agora, Sr. Ministro…

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O Ministro dos Negócios Estrangeiros Chinês que, por sinal, é conselheiro do Presidente Xi Jinping, reuniu com a Alta Representante da União Europeia Kaja Kallas, tendo-lhe afirmado, ao que parece, que “a China não pode aceitar uma derrota russa na Ucrânia”.

A China, que tem afirmado o respeito pela soberania nacional e pelo direito internacional, sabe muito bem que quem invadiu a Ucrânia foi a Rússia, no claro desrespeito pelo direito internacional e da Carta das Nações Unidas.

A China sabe muito bem que quem pretende anexar a Crimeia e mais quatro províncias ucranianas é a Rússia.

A China sabe muito bem que quem tem ameaçado, de tempos a tempos, com um conflito nuclear não é a Ucrânia, nem a UE, nem mesmo os EUA, mas antes, isso sim, o Sr. Putin, para já não se mencionar o exacerbado Vice-Presidente do Conselho de Segurança Soviético, digo, russo, de nome Dmitri Medvedev.

A China simulou durante algum tempo um certo distanciamento da Rússia, afirmando não participar na guerra da Ucrânia e, até mesmo, intervir como mediadora para, mais recentemente, começar a apoiar o esforço de guerra das Forças Armadas de Putin.

Cada vez mais se tem vindo a assumir como aliada estratégica da Rússia, o que, aliás, dá que pensar. E isto porquê?

Porque se é assim tão evidente que a Rússia está a ganhar a guerra, que aos ucranianos não resta outra alternativa que não seja a rendição, que a situação política, económica e social na Rússia se apresenta favorável para os interesses da nomenclatura russa, como é que se justifica o crescente empenho da China na ajuda ao seu aliado invasor?

Se está tudo a correr tão bem em Moscovo, como é que a China tem evoluído de apoiante discreta para aliada operacional assumida?

Porquê esse novo “desespero”?

Há aqui algo que não se percebe.

Mas, enfim, ninguém pode evitar que os autocratas despóticos tendam a apoiar autocratas despóticos. É esperável. É, até mesmo, normal.

Todavia, há algo de importante a explicar aos chineses.

É que mesmo que um dia se assinasse um Armistício entre a Rússia e a Ucrânia em que do mesmo resultasse a ocupação pelos russos de uma parte do país invadido, as repúblicas bálticas, a Polónia, a Suécia, a Finlândia, entre muitos outros países europeus, nunca aceitariam o dito Armistício como algo de adquirido para todo o sempre.

Nunca mesmo!

E mesmo que um dia se assinasse um Armistício entre a Rússia e a Ucrânia em que do mesmo resultasse a ocupação pelos russos de uma parte do país invadido, a comunidade internacional, a começar pelas Nações Unidas, jamais aceitaria formalmente essa nova situação.

Nunca mesmo!

Só faltou, na conversa entre o insípido Ministro chinês e a Alta Representante Kaja Kallas, esta última não ter rematado a conversa do seguinte modo:

Já agora, Sr. Ministro, a Europa, aquela que é a Europa Democrática, também jamais poderá aceitar uma derrota da Ucrânia.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário

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