'Dude (Looks Like a Lady)'
Em 1987, uma música com este título, do grupo Aerosmith, fervia nas rádios norte-americanas e tornou-se um sucesso. Foi inspirada num episódio engraçado vivido pelo seu vocalista, Steven Tyler, ao confundir o vocalista Vince Neil (Mötley Crüe), como sendo uma loura espampanante. Estávamos nos Anos 80, um período em que estas bandas de homens com cabelos compridos, roupas de cabedal e maquilhagem exuberante davam azo a mensagens dúbias, embora, na maioria dos casos, fossem heterossexuais, sem terem qualquer intenção de atrair o mesmo sexo.
Esta história vem a propósito da publicidade da Control que enfureceu algumas pessoas, mostrando uma castanha com bicho, e onde se lia: “O pior é quando a descascas e vês que tem minhoca”. Quem nunca comeu uma castanha e ficou decepcionado quando a viu com bicho, apesar de parecer apetitosa, que atire a primeira fruta.
A Control foi acusada de transfobia e retirou o cartaz com um pedido de desculpas. Condenada por não ter tido coragem de assumir a brincadeira, contrapôs com: “Primeiro apagámos a minhoca, agora perdemos os tomates.” Será que a sociedade deixou de ter humor, ou é um sintoma de intolerância?
Não se permite trocadilho, sarcasmo, ironia, uma piada, quando esta é tida como politicamente incorrecta. Ofende uma minoria. Há temas com os quais se pode fazer piadas, desde que não brinquem, nem firam os sentimentos dos ditos novos progressistas.
Ao longo de séculos, a Humanidade teve bobos da corte para entreter, e para dizer, com graça, as verdades a quem tinha poder. Quando uma sociedade começa a ter laivos ditatoriais persegue o riso, com a desculpa de que é ofensivo.
Lamento, mas se um homem quer estar com uma mulher, vê uma mulher e ela afinal é um homem, aquele que se faz passar por mulher não pode sentir-se ofendido. E aprender a rir de si próprio ou de uma situação equívoca é um sinal de inteligência; não aceitar isso é um perigoso sinal de intolerância.
Tempos estranhos, estes, em que temos de pedir desculpa porque a verdade é muitas vezes vista como ofensiva. O politicamente correcto está a matar a criatividade, como está a tornar a sociedade embrutecida e medrosa. O medo de falar livremente.
Só podemos ter um pensamento único. Então temos de abolir a crítica, a ironia, o sarcasmo, as perspectivas diferentes, porque tudo passou a ser um crime. Isto é, obviamente, um bom sinal de ditadura.
Só porque uma pessoa se sente ofendida, não quer dizer que tenha razão. As pessoas são livres de vestir, ser, dizer o que quiserem. Mas têm de perceber que os outros também são livres de ridicularizar, criticar ou brincar com as nossas particularidades.
Muitos se levam demasiado a sério. Qualquer dia, teremos a Rainha de Copas a gritar: “Cortem-lhe a cabeça!”. E a cabeça será cortada, porque ofendeu alguém com uma piada.
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico