Mal ou bem, vivemos num Mundo em que se crítica a relevância dos combustíveis fósseis no sector energético, falando-se das alterações climáticas e na indispensabilidade de se promover novas modalidades de energias renováveis, bem como, em alguns casos, na alternativa do recurso à energia nuclear.Contestam-se líderes políticos por causa dos combustíveis fósseis e, em circunstâncias particulares, realizam-se acções radicais contra os sobreditos líderes e até mesmo de sabotagem contra importantes infraestruturas.Não sendo um partidário de “gestos radicais”, compreendo, todavia, a preocupação de uma parte da opinião pública, sendo, todavia, certo que se apresenta necessário adoptar uma postura realista e séria sobre as problemáticas com que nos vamos confrontando.É impossível esquecermo-nos de que as energias renováveis padecem do problema da intermitência, de que o petróleo e o gás natural não provocam o mesmo grau de poluição e de que a energia nuclear não é aplicável a todas as situações que requeiram produção energética nos tempos de hoje.Mas, o que se apresenta mais preocupante é, em contrapartida, haver quem pense não fazer sentido criticar que os países desenvolvidos sejam objecto de competição a partir de bens produzidos em verdadeira situação de “dumping social” por parte de economias com um grau de desenvolvimento intermédio, bens esses que não satisfazem requisitos mínimos de qualidade, prejudicando, por exemplo, consumidores europeus e, portanto, não se indo ao encontro do desiderato da promoção do Bem-Estar Social, o que deveria constituir uma pedra angular de uma política económica sustentável.Não é preocupante que se vendam, na Europa, “t-shirts” por quatro euros e vestidos por dez euros?Que salário devem auferir os trabalhadores que, num Continente, porventura, distante, produzem essas “t-shirts” e esses vestidos?E a que tipo de segurança social têm acesso?E quais as férias anuais de que podem usufruir?E quais os seus horários de trabalho?E a que sindicatos fortes e independentes podem recorrer em defesa dos seus direitos?E qual a qualidade dos produtos que são vendidos, em termos de durabilidade e de protecção da saúde dos próprios consumidores?A mentalidade “incrementalista” que tem vindo a vingar no Mundo, de acordo com a qual o que é preciso é produzir-se cada vez mais, maximizando-se as vendas e os lucros, é uma mentalidade que só pode vir a destruir os alicerces de uma economia de mercado assente na qualidade, na responsabilidade e no que se convencionou designar de “responsabilidade social”.Pulveriza-se com tintas quem não proíbe já e agora os combustíveis fósseis, mas aplaude-se quem franqueia a entrada no mercado de quem produz explorando mão-de-obra barata ( ao nível de uma quase escravatura do século XXI ), de quem produz com baixa qualidade, de quem promove investimento directo estrangeiro em que os insumos intermédios são todos fabricados no exterior, sendo o próprio factor produtivo trabalho proveniente do estrangeiro e o impacto na economia de destino reduzido ao mínimo indispensável.Ser-se a favor da globalização não é só ser-se a favor do comércio livre, sem regras de qualidade e sem que se verifiquem pressupostos mínimos de respeito pelos direitos humanos nos países de origem dos produtos comercializados.Não, ser-se a favor da globalização é ser-se a favor de uma caminhada, ainda que paulatina e, por isso mesmo, gradual para a globalização dos fluxos de bens e serviços e dos factores de produção, de políticas sociais e de cooperação e dos próprios direitos humanos.Caso contrário, estaremos, também aqui, a adoptar dois pesos e duas medidas.E, no quadro dos fora internacionais, é indispensável termos presente que não faz sentido, que com base num princípio genérico de não discriminação, se esteja a discriminar positivamente quem não tem preocupações de qualidade, quem não valoriza o factor produtivo trabalho, quem não respeita os direitos humanos.Discurso algo utópico e, por isso mesmo, irrealista?Não, chamada, isso sim, de atenção para um problema que poderá vir a contribuir para a “globalização de sucesso” de economias aonde grassa um poder político tendencialmente despótico.Nem mais, nem menos… Economista e professor universitárioEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico