Um dos lugares-comuns da terminologia política nacional nas, grosso modo, últimas duas décadas é o de “esquerda-caviar”, termo usado para designar, de forma sarcástica, pessoas ou grupos que se afirmam de Esquerda, de preferência no espectro mais “radical”, mas que se deixaram enredar por causas cada vez mais distantes do quotidiano corrente da maioria da população. No fundo, por “esquerda-caviar” caracteriza-se aquela área do espectro político que evoca muito o “povo” no seu discurso, mas parece ter perdido uma efectiva ligação às suas preocupações e anseios. No fundo, serve para criticar uma “esquerda” que se aburguesou e que do velho proletariado só mantém uma proximidade retórica.Embora à Direita também não se desprezem referências ao “povo”, é mais habitual falar-se dos “cidadãos” e do “interesse dos cidadãos”. Nos últimos anos, em especial no campo dito “liberal”, tornou-se recorrente, em defesa da promoção dos interesses privados na Educação e na Saúde, o argumento de que é aos mais pobres e desfavorecidos que o Estado deve fornecer os meios para terem “liberdade de escolha” no momento de optar por soluções públicas ou privadas.Esta Direita, a que ouso designar como “direita-tremoço” distingue-se por detalhes da “esquerda-caviar”, de quem mimetiza o imenso cuidado com o melhor para o país e para os “pobrezinhos”, que devem ser ajudados não tanto com prestações sociais, mas mais pela caridadezinha. A diferença é que, mais do que manter a sua vidinha bem longe da plebe, a preocupação que é exibida funciona como uma espécie de boomerang. Reclama-se “liberdade de escolha” em áreas como a Saúde ou a Educação, sabendo de antemão que isso nunca será uma possibilidade para todos e que tudo se destina a sacar para si mesma uns cheque ao ignóbil Estado para ajudar a pagar a despesa nascida da opção por frequentar instituições que, em especial no caso da Educação, são símbolos de estatuto socio-económico, com acesso reservado a um leque restrito de apelidos e amizades, a que se podem acrescentar uma bolsas para alguns “pobrezinhos”, se possível recrutados a dedo com a ajuda de alguma organização do “sector social”.A “direita-tremoço” defende medidas “liberais” e critica os maus serviços do Estado, em nome dos “desfavorecidos” que não podem escolher por não terem meios, mas na verdade o que quer é fazer encaixe financeiro em causa própria. A “direita-caviar”, a legítima, a aristocrática de gema, de pergaminhos seculares, mesmo quando falida, nunca aceitaria este tipo de atitude oportunista. A “direita-tremoço” não passa de uma impostura. Centra-se na IL, ocupa parte do PSD no poder, menos pelo CDS, que anda minguado. A “direita-tremoço” defende muito os “interesses dos cidadãos”, menos quando eles decidem fazer greves em defesa dos seus interesses porque, nesses casos, provavelmente, deixam de ser cidadãos.Professor do Ensino Básico. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico