Diplomacia de vacinas da Índia: combate à pandemia, o caminho da Índia
Foi um momento radiante de orgulho para mais de 1,3 mil milhões de pessoas na Índia e um momento emocionante para o primeiro-ministro Narendra Modi quando lançou a maior campanha de vacinação do mundo em 16 de janeiro. Transmitido ao vivo na televisão nacional, o tão aguardado início da vacinação despertou um novo otimismo sobre um futuro mais saudável e feliz. A campanha de vacinação tem sido acompanhada de perto no mundo, pois as vacinas made in India prometem livrar-nos da praga letal da pandemia do coronavírus que matou milhões em todo o mundo.
"Preparar vacinas leva anos, mas no mais curto período de tempo temos não apenas uma, mas duas vacinas fabricadas na Índia", disse o primeiro-ministro Modi enquanto elogiava os cientistas indianos que trabalharam incansavelmente para tornar possível o que parecia impossível. A escala da campanha de vacinação da Índia é impressionante: na segunda fase, esperam inocular mais de 300 milhões de pessoas, o que excede a população da Grã-Bretanha, da França, da Alemanha e da Itália juntas. "Existem apenas três países no mundo com uma população superior a 300 milhões de pessoas: Índia, EUA e China. Portanto, esta será a maior campanha de vacinação", disse o primeiro-ministro Modi.
O desenvolvimento e fabricação indígenas das vacinas gémeas - Covishield (o nome local para a vacina Oxford-AstraZeneca desenvolvida no Reino Unido em colaboração com o Serum Institute of India) e a Covaxin, fabricadas localmente pela empresa farmacêutica Bharat Biotech - é um ponto alto na jornada tecnológica da Índia e mais um motivo de orgulho na sua reputação como potência farmacêutica mundial. A Índia é uma potência colossal de vacinas, respondendo por 60% da fabricação de vacinas no mundo. A Covaxin exemplifica o novo mantra da Atmanirbhar Bharat (Índia autossuficiente), pois foi desenvolvida de forma autóctone pela Bharat Biotech, que exporta vacinas para 123 países.
Essas vacinas reforçam o projeto Make in India de fabricação indígena e confirmam a crescente reputação do país como uma farmácia global do mundo. Essas vacinas também marcam a entrada da Índia no exclusivo clube V5 - as cinco potências produtoras de vacinas anticovid, que incluem os EUA, o Reino Unido, a Rússia, a China e a Índia.
A campanha de vacinação foi planeada de forma faseada, identificando grupos prioritários e informando os candidatos por telefone. Os profissionais de saúde, tanto do setor público como do privado, foram identificados como os primeiros a receber a vacina durante a fase 1, que começou em 16 de janeiro. Milhares de profissionais da linha de frente e de saúde receberam a vacina redentora na fase 1, sinalizando confiança na produção indiana de vacinas. Na fase 2, 300 milhões de pessoas serão vacinadas, com prioridade para os maiores de 50 anos e com comorbilidades.
A meticulosidade com que a campanha de vacinação está a ser implementada engloba a abordagem 3S do governo indiano - speed, scale and skill (velocidade, escala e capacidade). Essa abordagem 3S ficou evidente desde os primeiros dias da pandemia, quando a Índia se tornou o primeiro grande país a impor o confinamento geral para conter a pandemia, em março de 2020.
Nos meses subsequentes, a Índia intensificou os testes e deu outros passos determinantes, como o incremento da fabricação de máscaras e desinfetantes para conter a pandemia.
A campanha de vacinação da Índia visa eliminar o coronavírus não apenas no país, mas também ajudar os seus vizinhos, parceiros e amigos, a superar a pandemia. No âmbito do seu recém-lançado programa Vaccine Maitri, a Índia já forneceu a primeira parcela de vacinas a vizinhos, incluindo Bangladesh, Sri Lanka, Nepal e Mianmar. Em seguida, enviou vacinas para a Maurícia e as Seychelles, os países estrategicamente localizados do oceano Índico, que a Índia vê como parte da sua vizinhança alargada.
Em 20 de janeiro, 150 mil doses de vacinas foram fornecidas ao Butão e cem mil às Maldivas como subsídio de assistência, seguidas do fornecimento de um milhão de doses para o Nepal e dois milhões de para o Bangladesh. A 23 de janeiro, foram enviadas remessas de 1,5 milhão de doses para Mianmar, cem mil para a Maurícia e 50 mil para as Seychelles.
No espírito de vasudhaiva kutumbakam (o mundo inteiro é uma família) arraigado na cultura indiana, a Índia está a fornecer medicamentos a esses países como presentes e também numa base comercial. Em termos de quantidades e tipos de vacinas, os fornecimentos ao exterior nas bases G-to-G (governo para governo), G-to-B (governo para empresas) e B-to-B (empresas para empresas) serão baseados na disponibilidade e aprovações regulatórias nos países em questão.
A decisão de enviar vacinas primeiro para os países vizinhos foi tomada conscientemente pelo governo indiano para mostrar o seu compromisso incondicional com a política de Vizinhança em Primeiro Lugar iniciada pelo primeiro-ministro Modi. Estão também em curso fornecimentos contratuais para Arábia Saudita, África do Sul, Brasil, Marrocos, Bangladesh e Mianmar.
"Tendo em vista as necessidades internas da implementação em fases, a Índia continuará a fornecer vacinas covid-19 aos países parceiros nas próximas semanas e meses de forma faseada. Será garantido que os fabricantes nacionais terão stocks adequados para atender às necessidades internas enquanto fornecem para o exterior", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia num comunicado.
A campanha de vacinação, precedida pelo fornecimento de hidroxicloroquina para mais de 150 países em todo o mundo no auge da pandemia no ano passado, estabeleceu as credenciais da Índia como líder mundial do fornecimento em segurança para a saúde pública e fornecedor em segurança e em rede para a região. A assistência generosa da Índia relacionada com a pandemia e o seu aparecimento como o primeiro a responder numa crise valeram-lhe muitos elogios a nível mundial.
Considerando a Índia um "verdadeiro amigo", que está a aproveitar o seu setor farmacêutico para ajudar a comunidade global, os EUA elogiaram Nova Deli por doar vacinas covid-19 a vários países. "A Índia é um verdadeiro amigo que usa a sua indústria farmacêutica para ajudar a comunidade global", disse o Departamento de Estado dos EUA. A campanha de fornecimento de vacinas foi definida para fortalecer as relações da Índia com os países do Sul da Ásia, que têm fé nas vacinas feitas na Índia.
Líderes de países vizinhos também expressaram os seus agradecimentos pelo gesto amigável de Nova Deli. "Agradeço ao primeiro-ministro Shri @narendramodi ji, bem como ao governo e ao povo da Índia, pela generosa concessão de um milhão de doses da vacina covid ao Nepal neste momento crítico em que a Índia está a lançar a vacinação para o seu próprio povo", disse, no Twitter, o primeiro-ministro do Nepal, K. P. Oli.
Esta fase da Diplomacia da Vacina coincidiu com o mandato da Índia como membro não permanente no Conselho de Segurança da ONU e destaca a liderança global da Índia a enfrentar não apenas a pandemia, mas uma série de desafios transversais que o mundo enfrentará em 2021 e para além disso.
Manish Chand é CEO e editor-chefe da India Writes Network, www.indiawrites.org, e India and the World, uma revista pioneira focada em assuntos globais.
© Project Syndicate, 2020.