(Des)vantagens dos 'data centers'

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Na última década, assistimos a um rápido crescimento de data centers, seja para armazenamento de dados na cloud, seja para minar criptomoedas, seja para o desenvolvimento de inteligência artificial (AI). Dados coligidos pela Statista mostram que o bloco económico com mais data centers são os EUA (4.165, devido ao robusto setor tecnológico do país, com empresas como a Amazon, a Google e a Microsoft a operar muitas infraestruturas de cloud), seguido da Europa (3.476), Ásia e Oceânia (2.068, dos quais 381 na China). 

Os benefícios advenientes da instalação de data centers num país incluem: (i) criação de emprego (pouco); (ii) investimento estrangeiro; (iii) desenvolvimento de infraestrutura; (iv) aumento da conectividade; (v) receita fiscal; (vi) diversificação da economia; (vii) desenvolvimento de competências na área de tecnologia e infraestrutura; (viii) melhoria da segurança dos dados. 

No entanto, existem relevantes impactos ambientais e sociais da instalação de data centers num país. 

Nos EUA, uma coligação de mais de 230 grupos ambientais exige uma moratória nacional em relação a novos centros, acusando-os de causar emissões que aquecem o planeta (a intensidade de carbono da eletricidade utilizada nestes centros é 48% superior à média dos EUA, devendo aumentar as emissões do setor elétrico em 30%, atingindo 275 milhões de toneladas métricas de CO2 anualmente até 2030), absorverem enormes quantidades de água e eletricidade (8,9% do consumo total de energia nos EUA, 25% na Virgínia, onde há maior concentração destes centros), aumentando as contas de eletricidade. Um relatório de 2024 da Legislatura da Virgínia estimou que os consumidores residenciais do estado poderiam pagar mais 37,50 dólares / mês em custos de energia dos data centers

As projeções indicam um significativo aumento destes centros, prevendo a BloombergNEF que a procura de energia para data centers nos EUA passe de 25 GW em 2024 para 106 GW em 2035. 

A necessidade de grandes quantidades de água para arrefecer equipamentos também se tem revelado controversa, especialmente em áreas mais secas onde o fornecimento de água é escasso. 

De acordo com a McKinsey, até 2030, serão investidos quase 7 biliões de dólares em infraestruturas de data centers em todo o mundo (>40% deste investimento será feito nos EUA), principalmente para satisfazer as enormes exigências de desenvolvimento de AI. Mais de 4 biliões deste valor serão afetos a investimentos em hardware de computação e o restante será investido em áreas como o imobiliário e infraestruturas energéticas. 

A crescente oposição dos norte-americanos aos data centers e a dificuldade em produzir energia adicional ao ritmo que as empresas tecnológicas necessitam, explicam em boa medida o acelerado investimento em data centers noutras geografias, incluindo Portugal, em especial em Sines. 

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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