De Mazagão a Vila do Bispo são 150 milhas!

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Bem a propósito, suspeito que a semana será marcada pelos fogos e pelos 38 marroquinos/as, que sexta-feira desaguaram no Algarve.

Primeiramente, dar um merecido props ao governo pela prontidão em mês de férias, dos homens-em-armas e dos homens-das-leis, “deste país”, como alguns dizem por aí!

Em segundo, desmistificar o debate sobre “uma nova rota” desde 2019/20! Porquê?

Porque desde essa(s) data(s) e, a espaços, chegaram a Portugal desta forma, 147 migrantes! Foram chegando maioritariamente, em grupos de vinte a trinta, fazendo soar os alarmes de uma nova rota com destino ao Algarve, já pelo décimo desembarque, sexta-feira incluído.

Ora os números e o espaçamento de tempo entre desembarques, denunciam antes que estes serão “algarvios por indigência pura”! O que é que isto significa?

Significa que são quem não tem dois ou três mil euros para pagar a travessia dentro do circuito clandestino tabelado e controlado. Quem não tem que chegue não embarca e, condição humana, atrai-se e ajunta-se e ajuda-se e passam a fazer mealheiro comunitário para quando puderem, saltarem no improviso total para a primeira chata de partida, iguais às do banheiro da praia, quando ainda era a remos!

O factor dinheiro é determinante e indicador. Só quem tinha no Níger, Mali ou Senegal, por exemplo, duas a três cabeças de gado e as vendeu para tentar a travessia, consegue chegar a Marrocos ainda com um pé-de-meia, que lhe permita manter-se no circuito do passador. O ratio de nacionalidades dos 147 “algarvios por indigência pura”, é precisamente residual quanto à origem subsaariana, sendo o grosso destes migrantes de nacionalidade marroquina. Naturalmente, não tinham duas a três vacas ou cabras para vender!

A referência a Mazagão, do título, deve-se ao primeiro semestre de 2020 ter registado, pelo menos cinco desembarques com origem em El Jadida, a “nossa Mazagão” de 1486 a 1769, num total de 76 migrantes a bordo. Deduz-se que esta cidade costeira, com uma cidadela portuguesa, tenha sido poiso de grupos de pessoas que desesperadamente, apenas tivessem como opção, juntar o básico. Água, combustível, bolachas e o barco. Depois há sempre o relato de um pescador português, nosso conhecido que nos relata tudo o que vê e o que ajuda, na “solidariedade dos deslargados”. Perante os náufragos, que já rezam em gemidos, lançam-lhes uma corda, que se chama cabo e rebocam-nos até onde a carta permite.

E à babuje, lá chegam ao Algarve a pensar que estão em Espanha! O improviso é deles, sem mar, sem GPS, largados à sorte. Portugal, sem improvisos, demonstrou que “há mar e mar, há ir e voltar”!

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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