Consequências da diminuição populacional da China 

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A população da China começou a diminuir em 2022. As projeções da ONU apontam para uma redução gradual até 633 milhões de habitantes em 2100. Até 2050, a população da China deve diminuir em -13,7% (194 milhões de pessoas). A continuar a queda das suas taxas de fertilidade e de casamentos, os números podem ainda ser piores. 

No curto prazo, a primeira consequência é o envelhecimento da população chinesa, com 400 milhões de pessoas com 60 anos ou mais até 2035. Este envelhecimento constituirá um desafio para os sistemas de saúde e de segurança social do país, com custos potencialmente atingindo 25% do PIB chinês até 2050. 

A redução da população deve diminuir o crescimento económico da China. Embora uma população menor crie oportunidades para melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes – investindo em saúde, educação e infraestruturas – e reduzir a pressão sobre os seus recursos naturais. 

O governo chinês está ainda a investir em tornar-se um líder em I&D e tecnologia avançada, aproveitando a sua população mais educada e envelhecida para impulsionar um crescimento sustentável assente no desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia e inovadoras, crucial para escapar à “armadilha dos países de rendimento intermédio”. 

Porém, a consequência mais grave será a escassez de trabalhadores. De acordo com o World Economic Forum, depois de ter atingido 925 milhões em 2011, a população em idade ativa da China deverá cair para 700 milhões em 2050. Por ora, a migração interna, das zonas rurais para as urbanas, tem permitido a existência na China urbana de um “exército industrial de reserva” que assegura mão-de-obra. Esta migração está a acabar, devendo atingir o pico até 2030. 

Ao mesmo tempo, mantém-se um grande fluxo de emigrantes chineses para o estrangeiro. Demógrafos da ONU estimam que, de 2023 até 2100, saiam da China uma média de 310.000 nacionais / ano, ou seja, um total de c. 24 milhões de pessoas. 

Esta escassez de mão de obra talvez possa ser compensada com incrementos na inovação e na produtividade, através da automação, da robótica e da inteligência artificial. É duvidoso que seja suficiente. Ao contrário de muitos países ocidentais também em acelerada transição para um inverno demográfico, a China não está a usar a imigração para compensar a diminuição da população. A proporção de imigrantes em relação à população total na China era de apenas 0,2% em 2020. Continua a ser difícil um estrangeiro obter o direito de residência na China, embora medidas muito recentes (o “visto K”) hajam facilitado a permanência a trabalhadores estrangeiros qualificados. Todavia, a reação [nas redes sociais] da população chinesa jovem ao novo “visto K” foi muito negativa. Está o governo chinês disposto a aumentar significativamente a imigração? 

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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