Claudia Sheinbaum Pardo, Presidente eleita do México
“É importante que as mulheres participem em todos
os níveis de poder político.
Acabavam os territórios proibidos, começava
o caminho
para uma mais justa
distribuição das funções
sociais”
Maria de Lourdes Pintasilgo,
1991
O México tem hoje a primeira mulher Presidente da sua história. A vitória de Claudia Sheinbaum é o resultado da sua enorme experiência política, qualidade humana e indubitável capacidade intelectual e profissional, mas também do compromisso do Estado mexicano com as mulheres, cuja luta histórica para aceder a direitos políticos plenos e ocupar cargos públicos quebrou a última barreira 200 anos depois de o México ter eleito o seu primeiro Presidente.
A nação mexicana foi forjada por patriotas que lutaram pelos seus direitos e liberdades. As mulheres foram essenciais na gesta da Independência e na Revolução Mexicana. No entanto, apesar do Primeiro Congresso Feminista (Yucatán, 1916) e do notório conteúdo social da Constituição de 1917, a legislação não reconheceu os direitos das mulheres, o que as deixou fora da cena política.
Em resposta, elas lutaram por um papel mais ativo, conquistando em 1953 o direito de votar e de serem votadas. Posteriormente obtiveram a igualdade jurídica, o reconhecimento da saúde sexual e reprodutiva e o pleno direito à propriedade, entre outros. Em matéria política, em 1996 foram estabelecidas quotas de género no Poder Legislativo e em 2014 a Constituição impôs aos partidos a obrigação de garantir a paridade de género.
Atualmente, o México ocupa o 26.º lugar a nível mundial na formação de um Governo paritário: 42,1% de mulheres (Portugal é 28.º), e partilha o 4.º lugar com a Nova Zelândia e os Emirados Árabes Unidos no que diz respeito à percentagem feminina na Câmara Baixa, à frente de todos os países europeus.(1)
As mulheres mexicanas conseguiram ganhar espaço no poder público: em 1979 tivemos a primeira mulher governadora, no Estado de Colima. No final de 2024 teremos somado um total de 22 governadoras na nossa História, uma delas precisamente Claudia Sheinbaum, em 2018.
A Presidente eleita é uma política nata: começou como ativista estudantil no liceu e foi líder durante os tempos de universidade. Sempre contou com o apoio dos colegas devido à sua capacidade de ouvir e procurar soluções conjuntas.
A Presidente eleita não é apenas uma política: o seu impressionante currículo inclui uma licenciatura em Física, bem como um mestrado e um doutoramento em Engenharia de Energia, pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Os resultados do seu período de investigação na Universidade de Berkeley levaram-na a integrar o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que em 2007 recebeu o Prémio Nobel da Paz.
A sua perícia científica levou o atual presidente cessante, Andrés Manuel López Obrador, então chefe do Governo da Cidade do México, a convidá-la para fazer parte do seu gabinete como secretária do Ambiente, em 2000. No final do seu mandato, retomou a sua vocação política a partir da sociedade civil, mas sempre próxima das causas da esquerda.
Em 2011 nasceu a associação civil “Movimento de Regeneração Nacional” (Morena), que se tornou partido político em 2014, com a Doutora Sheinbaum como uma dos seus fundadores. A confiança que transmite refletiu-se nas amplas margens de vitória que obteve representando o Morena nos processos eleitorais: quando se candidatou à Câmara de Tlalpan (2015) superou o seu adversário em 14 pontos, para chefe do Governo da Cidade do México (2018) superou a concorrência por 16, e a 2 de junho de 2024 conquistou a Presidência da República, com 30 pontos de vantagem.
Este resultado esmagador faz dela não só a primeira Presidente do México, mas também a candidata com mais votos da nossa História, ao obter mais de 33 milhões de votos.
Enquanto Presidente eleita, Claudia Sheinbaum defendeu a promoção das relações com a Europa e agradeceu calorosamente ao primeiro-ministro Luís Montenegro as felicitações, sublinhando que continuará a fortalecer as relações políticas, económicas, educativas, culturais, turísticas e de conectividade entre o México e Portugal.
A vitória de Claudia Sheinbaum mostra o desejo da sociedade mexicana de continuar a implementação decisiva das políticas sociais e de luta contra a pobreza, e de aprofundar a igualdade de género. Estou certo de que a sua gestão irá inspirar e capacitar as mulheres e as raparigas para ocuparem os cargos de liderança que o México e o mundo tanto precisam.
(1)ONU Mulheres/União Interparlamentar “Mulheres na Política: 2023”