Já foi há várias décadas que tomei conhecimento da chamada “lei dos rendimentos decrescentes”, também conhecida como “lei da produtividade marginal”. Foi quando, durante a distante licenciatura, se abordavam os entraves ao crescimento económico no fim da Idade Média quando, esgotadas as potencialidades das inovações técnicas do século XII, de pouco adiantava aumentar a área cultivada porque os recursos que isso acarretava não compensavam o retorno obtido. Ou seja, a produtividade baixava. A ideia fundamental é que, perante a ausência de progressos tecnológicos ou nas formas de organização do trabalho, não adianta aumentar as “unidades de produção”, em especial de recursos naturais, (terras, naquele caso) que o rendimento não compensa esse tipo de “investimento”. O mesmo se pode aplicar ao “recurso natural” que é o trabalho humano, de pouco adiantando aumentar as horas de trabalho, se as condições vão sendo progressivamente piores O trabalhador até pode produzir mais, mas a produtividade desce. Há economistas ocasionais, que se firmam liberais, que não percebem isso e tentam explicar o paradoxo aparente de países com menos horas de trabalho e melhores salários na base da “flexibilidade laboral”, não percebo se por ignorância (acho que não), se por motivos ideológicos peculiares. A situação pode ser exemplificada de um modo mais gráfico para que seja mais facilmente perceptível: se carregarmos um animal de carga com uma determinada quantidade de mercadorias, há um ponto a partir do qual carregar mais o bicho só vai tornar mais lento o transporte ou mesmo esgotá-lo. A menos que se lhe permita descansar, se melhore o piso onde se desloca ou a forma de distribuir o peso, adicionar mais mercadoria é contraproducente e gera um rendimento decrescente e a diminuição do que se entende por produtividade. E o serviço fica pior. No caso dos seres humanos a situação é mais grave porque existe a capacidade racional de, conhecendo as circunstâncias, antecipar o desfecho. Se um trabalhador sabe que vai ter um dia de trabalho longo, numa semana com o horário desregulado em relação às suas necessidades pessoais e familiares tende, desde o início, a “proteger-se”, numa natural estratégia defensiva. Uma coisa é encarar um dia com 7 horas de trabalho, outra um dia com 10 horas. Pior ainda se em vez de uma semana para descansar lhe é apresentado um horário com folgas irregulares ou mesmo imprevisíveis. Neste caso, a produtividade não começa a decrescer apenas no final do dia ou semana de trabalho, mas logo desde o início. A solução para aumentar a produtividade é melhorar as condições de trabalho, perceber o ponto óptimo de equilíbrio entre esforço e rendimento, investimento e retorno. Infelizmente, há quem ache que o “óptimo” é apenas carregar mais nos “animais”, esperando que docilmente se limitem a carregar mais e mais. Professor do Ensino Básico. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico