É manifesto que a imigração não coloca (por agora) problemas de insegurança em Portugal. Basta olhar para os números da Direcção de Reinserção e Serviços Prisionais referentes a 2023 para verificar que nas cadeias portuguesas estão 83,3 % de portugueses e 16,7% de reclusos estrangeiros.Contudo, a dicotomia entre criminalidade e percepção de insegurança, naturalmente, não se esgota nestes números.A questão da insegurança relativamente aos imigrantes surge também aos olhos da opinião pública no incumprimento das regras e valores portugueses que não são respeitados por alguns desses imigrantes. Aqui caminhamos já no que é o território da percepção de insegurança.Se olharmos para os imigrantes chineses que vivem em Portugal verificamos que não existe o mínimo reparo ao seu comportamento no que respeita à sua inserção na sociedade portuguesa. São discretos, são respeitadores dos valores da sociedade portuguesa e cumprem, com rigor, as regras do nosso país. E fazem-no sem que, com isso, ponham em causa os valores originais da sua nacionalidade.O mesmo não pode dizer-se de outras nacionalidades de imigrantes em Portugal que importam para o nosso país alguns hábitos e comportamentos que aumentam o caos na sociedade portuguesa e geram entre nós uma sensação de insegurança. E isso é bem visível no quotidiano.Se eu circulo no meu carro com um farol fundido tenho grandes probabilidades de, numa primeira oportunidade, a polícia me mandar parar, me multe e me force a levar o carro a uma inspecção com a avaria já solucionada. É um regulamento automobilístico da sociedade portuguesa que deve ser respeitado por todos, sejam portugueses ou imigrantes. Quem está cá, cumpre as regras portuguesas.Como olhar, então, para as inúmeras bicicletas de distribuidores indianos de comida que circulam em Lisboa sem iluminação, atrás e à frente? Como aceitar uma sistemática violação das regras de trânsito, por bicicletas e motos, igualmente de distribuição de comida, que passam sinais vermelhos, não respeitam as passagens de peões e nalguns casos circulam mesmo em contramão? Como admitir a atitude de condutores da TVDE e quejandos (indianos e brasileiros e outras nacionalidades) que param os veículos, indevidamente, interrompendo o trânsito e gerando o caos no fluxo de circulação nas grandes cidades? E, por vezes, fazem-no, interrompendo a marcha de veículos de emergência como ambulâncias ou carros de bombeiros.Estes são exemplos simples de atitudes que, não sendo criminosas, provocam irritação e criam nos portugueses uma percepção de insegurança e caos, que origina desconforto e gera sentimentos de adversidade em relação aos imigrantes.Um destes dias as autoridades policiais vão ter de olhar a sério para o caos que começa a instalar-se nas grandes cidades e que acabará por se tornar incontrolável se nada for feito.Agora a questão do uso da burka está na actualidade. Deve ou não permitir-se o uso da burka na sociedade portuguesa? Convém aqui recuar à origem desta prática quando na Mesoptâmia e na Pérsia antiga o utilização da burka era um símbolo de distinção de mulheres de classes mais altas. Há, portanto, no uso da burka uma segregação de classe e de género.No Afeganistão o regime talibã, que proibia as jovens adolescentes de frequentarem as escolas e as mulheres de trabalharem, forçavam-nas , também, ao uso da burka.Nas sociedades ocidentais o uso da burka tem vindo a ser restringido, porque esse uso não está conforme as regras e os hábitos praticados no Ocidente. Na Áustria a burka está proibida desde 2017. Na Dinamarca e nos Países Baixos a burka e os véus são probidos em espaços públicos como escolas, hospitais e transportes colectivos. A inserção numa sociedade também é o respeito e o cumprimento das regras e dos valores dessa mesma sociedade. Esse respeito e esse cumprimento ajudam, e muito, no processo de inserção dos imigrantes.Não creio, pois, que faça sentido, a existência em Portugal de mulheres de cara tapada, sejam elas de que etnia forem. Por enquanto é um facto que não há muitas mulheres de burka em Portugal. Mas não sabemos o dia de amanhã. Se for autorizado o uso da burka em Portugal vamos engrossar o território da percepção de insegurança que se vive no nosso país. Não, o uso da burka não. Mulheres, sejam lá de que etnia forem, mostrem as vossas caras. Algumas são, seguramente, lindas. E, por cá, não é costume escondê-las.Jornalista