Bissau vista da Praia

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A situação política na Guiné-Bissau obriga a uma leitura dos acontecimentos, posturas e atitudes, sobretudo do presidente (PR) Sissoko, a partir de África e não da Europa.

Por partes, há um problema na Constituição bissau-guineense, já que apresenta linhas cinzentas que confundem semipresidencialismo e presidencialismo, permitindo ao PR iniciativas, como a do actual Governo de Iniciativa Presidencial, por decreto e não-contemplado nos poderes presidenciais. A questão é naturalmente política (vitória da Coligação PAIGC-PAI Terra Ranka, junho 2023) e pessoal. Ambos “têm génio”, Sissoko e Domingos Simões Pereira (PAIGC), como dizemos das crianças irrequietas!

No caminho, há uma suposta tentativa de golpe de Estado que envolve um ministro das Finanças. Mas o ministro das Finanças era do Governo eleito (PAIGC-PAI Terra Ranka)! Será que o Governo em funções iria simular/operacionalizar um golpe contra si próprio? Trata-se de uma nebulosa que vem de dezembro de 2023! Eis algumas das questões que fui debatendo na Praia, ao longo da semana cabo-verdiana, cujos locais “levantam as seguintes lebres”:

Em primeiro há uma contra-narrativa da parte do PR para justificar que foi atacado;

Segundo, a “bota não bate com a perdigota”. Um ministro, o das Finanças, autorizou pagamentos devidos a empresários, é detido por isso e inicia-se um tiroteio no Palácio do Governo, do qual  resultam 6 mortos - dois do corpo de segurança pessoal do PR e quatro atacantes, salvo erro. Porquê? Porque a Guiné-Bissau é pródiga no “um-dó-li-tá” da dúvida entre intentona e inventona. Eu próprio vivi esse momento na “Bissau de Namadjo e do CEMGFA António Indjai”! Com o bloqueio internacional à comunicação social, eu e o José Mussuaili fomos os patos que lá foram com microfones e câmaras para “alguém” simular uma inventona, que passou na comunicação social como intentona. O objectivo final parece ter sido apenas, uma vez mais, uma questão pessoal entre o então PR Namadjo e o CEMGFA Indjai!

Terceiro, a marcação das novas eleições, ad eternum adiadas! Para quando as eleições? Bissau-guineenses e cabo-verdianos respondem: “Isso é do foro Sissoko, só ele sabe!”

O quarto ponto é assinalar um “isolamento Sissoko” perceptivelmente voluntário, o que me transporta para o essencial de África e que quero dizer alto e bom som. Em África não existe democracia, existem regimes multipartidários com eleições regulares.

Porquê? Porque em África é impossível garantir a independência de poderes! Porquê? Porque se trata de sociedades/comunidades de tradição oral, étnica e tribal. Dói? Pois dói, mas é a verdade a partir de uma África insular que vê o continente com uma equidistância de quem tem uma democracia consolidada e passa actualmente por vibrante campanha para as Autárquicas. Força Cabo Verde, que seguras a tocha de quem promove a diferença em África!

RMBPires na Cidade da Praia
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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