BCE vai cortar taxas 5.ª feira
O Banco Central Europeu irá reunir na próxima quinta-feira e é dado como certo que irá cortar os juros pela quinta vez neste ciclo de descida de juros. A taxa de depósito irá baixar para 2,75% e espera-se que haja mais cortes até ao fim do ano, com o mercado a descontar entre 3 a 4 descidas dos juros até ao final do ano.
Há alguma incerteza neste cenário, o que é natural num mundo que está a mudar depressa. Há riscos de regresso de inflação, sobretudo devido às tarifas que Washington poderá impor e, assim, iniciar uma guerra comercial a nível global. A materialização desses riscos, a ocorrer, poderá acontecer apenas no final do ano, pelo que o Banco Central dificilmente inverterá o rumo nos próximos trimestres, até porque a economia europeia não está num bom momento e dispensa juros altos.
Por outro lado, o BCE não quer um euro valorizado e descer taxas é um dos caminhos para atingir esse objetivo. Finalmente, e não menos importante, há vários países da Zona Euro com rácios de dívida muito altos e que, na ausência de uma taxa de inflação elevada, precisam de juros mais baixas para irem emitindo e rolando dívida. França e Itália, por exemplo.
O impacto de Trump em Portugal
Trump é um agente de mudança, daquelas que poderá ficar nos livros de História, mas que não conseguimos antecipar o seu alcance. O impacto em Portugal, no curto prazo, poderá sentir-se em pelo menos 4 dimensões. No que respeita ao comércio internacional, 7,1% das exportações de bens vão para os EUA, constituindo o 4.º maior mercado de Portugal, pelo que a eventual imposição de tarifas poderá ter impacto.
Quanto ao turismo, os EUA representam 10% das receitas turísticas em Portugal, mas não é provável que Trump altere este quadro. O maior risco será uma recessão nos EUA ou alguma querela que dificulte a circulação de pessoas.
Um dos maiores riscos reside no atrito, para ser otimista, que a nova Administração irá gerar na relação com a Europa, numa altura em que a União Europeia está em dificuldade económicas e políticas. O projeto europeu irá certamente ser alvo de um teste de stress, talvez o maior da sua História. Além disso, a UE terá de perceber qual a melhor forma de assegurar a sua Defesa. É um contexto tão desafiante, que poderá constituir uma enorme oportunidade. Trump também é um influencer. Além dos assuntos que coloca na agenda (e alguns fazem todo o sentido) e que irão alterar a forma de muitos governos atuarem, a sua forma de estar, de tratar os outros, sejam pessoas, instituições ou nações, poderá criar um novo paradigma do que poderá ser ou não aceitável. Muitos comportamentos, até agora reprimidos, irão fazer-se notar em todas as áreas da sociedade e da economia. A postura bully arrisca fazer escola e será um verdadeiro desafio conseguir evitar que gere profundas divisões.
Economista conselheiro