O meu Batman só tem 35 anos. 35 porque só nasceu em 1989 com o Tim Burton. Foi este Batman de Tim Burton que me entrou na velhinha Philips da sala da casa dos meus pais e que me abriu a curiosidade para conhecer o Batman de 85 anos, criado por Bill Finger e Bob Kane..O Bat-Man, nome original deste herói mascarado, foi a personagem que me afastou da Disney. Cada folha que eu virava nos livrinhos da DC (e da Marvel!), era uma linha de esquecimento que eu acrescentava nos Almanaques da Disney. Com o Batman vieram os outros. Super-Homem, Mulher-Maravilha, Flash... Mas à medida que ia conhecendo, e absorvendo páginas e páginas de quadradinhos coloridos de tantos e tantos personagens, mais o Batman me fascinava. Talvez por ser a única personagem sem superpoderes que eu conhecia na altura..Para além disso, estando eu a entrar na minha adolescência quando os Batmans de Burton são criados, a ideia do playboy endinheirado durante o dia que se assume como vigilante durante a noite, carregado de mistério e carisma agradava-me. Agradava-me e fazia-me sonhar!.Na verdade, enquanto os alguns dos meus amigos queriam todos ser pilotos de MotoGP ou de Fórmula 1, como o Michael Doohan ou o Ayrton Senna, e outros futebolistas como o Roberto Baggio, eu só queria ser como o Batman! Ou no limite uma versão real do justiceiro de Gotham..A ideia de poder conhecer e manipular materiais e tecnologias para construir artefactos que fossem uma extensão do ser humano era, julgava eu na altura, a melhor qualidade de Bruce Wayne. Claro que o facto de ser multimilionário ajudava, mas não eram os milhões de dólares da sua conta bancária que o faziam ter mais ou menos e melhores ou piores ideias..O Batman é, na verdade, o homo ingenious da banda desenhada. É uma personagem criadora. É um justiceiro com características baseadas na criação e na criatividade. É um justiceiro que a partir do seu conhecimento do quotidiano, da sua inteligência e das suas capacidades de agregação de disciplinas, cria os seus próprios objetos com que luta contra o crime. Hoje, eu diria que, sem saber quando o Batman me foi apresentado, esta foi talvez a variável que me fez realmente apaixonar por esta personagem..Pois o Batman dá-nos, para além das suas capacidades heroicas de luta para o bem da sociedade, a possibilidade de acrescentar ao mundo novos artefactos, como se fossem uma extensão do seu corpo, em prol de uma melhoria na execução de uma tarefa..Talvez seja por isso que os criadores, de tempos a tempos, quando criam algo de novo, se sintam um bocadinho como o Batman. Eu incluído! E isso não é coisa pouca.