No ano passado, um estudo de Laura Murphy, professora americana de direitos humanos e escravidão contemporânea na Universidade de Sheffield Hallam(Reino Unido) foi recusado para publicação pela instituição. A investigação era sobre práticas de trabalho forçado que os muçulmanos uigures supostamente enfrentam, e terá sido recusado devido a uma campanha de intimidação e assédio por parte do Governo de Pequim, segundo informação veiculada em reportagens do The Guardian e da BBC. Facto é que, recentemente, e vários meses passados após este episódio, a Universidade britânica pediu desculpa à professora – não sem antes ela iniciar uma ação judicial contra a instituição – afirmando que “deseja deixar claro o seu compromisso em apoiar a sua investigação e em garantir e promover a liberdade de expressão e a liberdade académica dentro da lei”. Uma decisão que surge após a entrada em vigor de novas leis sobre liberdade de expressão em Inglaterra, em agosto, com o defensor da liberdade de expressão do Gabinete para Estudantes, Arif Ahmed, a avisar que o regulador tomaria medidas se as universidades cedessem à pressão de governos estrangeiros em relação a áreas de investigação que possam gerar controvérsia – no fundo, para tentar travar aquilo que tem acontecido (alegadamente) em algumas instituições norte-americanas.Numa altura em que os Governos de todo o mundo agitam a bandeira da Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU – onde se incluem, por exemplo, o cumprimento básico dos direitos humanos mais básicos - não deixa de ser absolutamente fascinante (por favor, caro leitor, detete a ironia!) que as liberdades estejam cada vez mais ameaçadas. E se as universidades, que deveriam ser os garantes do pensamento livre e da investigação sem limites, são tão facilmente manietadas por governos a milhares de quilómetros de distância, talvez tenhamos todos de parar para pensar que mundo é este que estamos a construir. Onde o dinheiro, a política e as relações diplomáticas valem mais do que os cidadãos que, repito, estes governantes juraram proteger. Que em 2025 precisemos de uma ação judicial para que haja um reconhecimento de culpa por parte de uma universidade que, propositadamente, vetou a publicação de uma investigação legítima, é sinal mais do que suficiente para que soem todos os alarmes, alto, bom som e com luzes brilhantes a piscar. Porque o que temos pela frente só pode ser muito negro. .Harvard - a universidade com quase 400 anos que comprou a 'guerra' com Trump.Academia contra-ataca: Harvard processa administração Trump e mais de 100 reitores assinam declaração conjunta