Assassinato de opositores indianos no estrangeiro e linhas vermelhas
De acordo com recente edição do Economist, “o chefe da Real Polícia Montada do Canadá acusou o principal diplomata da Índia no Canadá, S. K. Verma, de envolvimento com uma rede criminosa que coagiu e matou cidadãos canadianos que apoiam o separatismo sique”. Em setembro de 2023, o primeiro-ministro do Canadá, J. Trudeau, já tinha alegado publicamente que agentes indianos tinham estado envolvidos num tiroteio contra H. S. Nijjar - um cidadão canadiano ativista do movimento separatista Calistão e líder religioso sique, designado como “terrorista” pelo Governo indiano - à porta de um templo sique num subúrbio de Vancouver. O Governo indiano alegou que a referida acusação era ridícula, e exigiu que o Canadá fornecesse provas; o Canadá terá fornecido provas através dos serviços de informações dos dois países, mas a Índia mantém as alegações.
É difícil de acreditar que o Governo canadiano tenha criado uma tempestade diplomática com repercussões nas relações comerciais entre os países sem uma boa razão.
Outro caso similar foi o atinente à tentativa de assassinato do cidadão americano G. S. Pannun (outro ativista do movimento Calistão), que levou a acusações do Departamento de Justiça dos EUA contra “um indiano trabalhando para o Governo da Índia”, em novembro de 2023.
Pannun e Nijjar foram apenas dois de uma longa lista de opositores indianos assassinados (ou com tentativas de assassinato) no estrangeiro. O Governo indiano nega ter um programa de assassinato de opositores no estrangeiro, mas os analistas insinuam que os casos são tantos que parece existir um tal programa.
Não sendo caso único a nível mundial, é claro que o Governo de Modi/BJP não hesita em violar a soberania de países amigos e comprometer as relações internacionais com países Ocidentais relevantes, a fim de estender ao exterior a perseguição sectária doméstica de minorias religiosas em consonância com a sua política de Hindutva.
É certo que algumas potências Ocidentais (ex: EUA) não têm exatamente as mãos limpas neste tipo de ações em nome da raison d’État.
Da mesma forma que criticamos tais atos quando praticados pelas potências Ocidentais, urge que haja consequências para a forma despudorada como o Governo de Modi pratica estas ações que violam o direito internacional.
O Ocidente deve consciencializar-se de que, sob o Governo do BJP, a Índia é uma democracia muito imperfeita, com terríveis violações das liberdades civis, muitas das quais decorrem das políticas do BJP e da natureza do RSS/BJP - misturando ultranacionalismo de base religiosa com uma organização proto-fascista. O acesso ao apetecível mercado indiano e considerações geopolíticas não podem ser os únicos fatores a tomar em consideração. Se Modi continuar a cruzar linhas vermelhas do direito internacional, tem de haver consequências.
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