Se há uma vitória inquestionável nas eleições autárquicas ela vai direitinha ao PSD que, hoje, ostenta o invejável troféu da presidência da Associação Nacional de Municípios. O PSD é, como sabemos, na conjuntura nacional o partido com maior número de Câmaras.Mas se há uma meia vitória neste processo eleitoral autárquico ela pertence, inteirinha, ao Partido Socialista e a José Luís Carneiro.E essa meia vitória reside na recuperação que, com estas eleições, o PS fez da sua matriz política ideológica original saindo da hecatombe das últimas eleições legislativas em que o PS esteve à beira da extinção. O fracasso de Alexandra Leitão em Lisboa é também o enterro das teses extremistas, o desmantelar do que resta da “geringonça” de António Costa e da derrota dos seus “muchachos” que proliferam, ainda, pelo PS e o tentam arrastar para soluções politicamente inconsequentes. O que é que o BE e Mariana Mortágua trouxeram de novo á candidatura de Alexandra Leitão que não fosse uma componente de activos tóxicos que a fizeram perder votos?Esta meia vitória do PS é a prova de que os portugueses querem um PS moderado, sensato, responsável, ideologicamente, situado no centro do espectro político nacional. Querem um PS que esteja próximo das pessoas, que tome contacto com as suas necessidades mais prementes e que dê o seu contributo para resolver os inúmeros problemas nacionais que persistem na sociedade portuguesa. A José Luis Carneiro resta agora ter a coragem e determinação para conduzir o partido de acordo com a que sempre foi a sua matriz ideológica, estabelecida por figuras históricas do PS como Mário Soares e Salgado Zenha. A moderação, a responsabilidade, a sensatez, as pessoas primeiro que o primado da ideologia, a atenção e o cuidado dado aos anseios das populações que conferiram ao PS esta meia vitória que representa para José Luis Carneiro um novo degrau de responsabilidade na gestão do PS. Carneiro tem agora que ser determinante nas suas escolhas, trazendo novos quadros ao PS, modernizando as suas estruturas, procurando novos dirigentes qualificados, lançando o PS, de novo, na lógica de um partido próximo das pessoas. Afastar a “tralha” é um exercício vital para colocar o PS no foco nacional e levá-lo ao patamar da aspiração de voltar a pertencer ao universo de uma solução governativa. Continuar a colaborar com o Governo na procura das melhores soluções, lutar pela afirmação das propostas socialistas como fez no Orçamento de Estado. E anunciar, como irá fazer em breve, o nome de António José Seguro como candidato presidencial do PS. O grau de afirmação de José Luis Carneiro vai determinar o sucesso do seu futuro como secretário-geral socialista.Quanto á vitória total do PSD ela representa um novo patamar de responsabilidade para Luís Montenegro. O resultado destas eleições autárquicas foi para Montenegro um aval positivo da população portuguesa relativamente a política seguida. Naturalmente que não existem extrapolações completas de autárquicas para legislativas, mas sabemos bem que , tradicionalmente, o povo português tem o hábito de incluir nas suas escolhas autárquicas uma avaliação do governo em exercício. Uma realidade que António Guterres bem conhece. Portanto, Montenegro entra agora num novo patamar de exigência na acção do Governo. Tem uma nova força anímica de caracter político para retomar, mas retomar de facto, com resultados palpáveis, a resolução dos problemas que persistem no país. Nunca é demais relembrar que a habitação continua sem conhecer soluções que os portugueses vejam como decisivas e com bons resultados. A saúde não encontra um caminho de estabilidade e disponibilidade que dê conforto e eficácia aos portugueses que têm necessidade de ir a um hospital público. A modernização administrativa tem de começar a ter resultados palpáveis e não promessas de sucesso na prazo de quatro anos quando a legislatura estiver no fim.Com estas eleições autárquicas, com esta vitória total do PSD e esta meia vitória do PS, os respectivos responsáveis pelos dois partidos enfrentam agora novos desafios nos cargos que desempenham. Montenegro perderá as próximas eleições legislativas se a prestação do governo não registar novos resultados bem visíveis aos olhos da população. Quanto a José Luis Carneiro será forçado a deixar a liderança do PS se não tiver a coragem e determinação para repor no PS a sua matriz política original.Jornalista