A frase que escolhi para título dá nome a uma rubrica recente da Rádio Renascença, criada pelo ator e humorista Vasco Pereira Coutinho, e tem-me vindo muitas vezes à lembrança nos últimos tempos, sobretudo quando falamos de interação social. E de internet, onde agora parece acontecer grande parte do relacionamento entre humanos. Afinal, de onde vêm estes níveis de agressividade crescente que não apenas seguimos como se legitimam com o passar do tempo?Duas publicações científicas dão-nos pistas. No início deste ano, um artigo da revista Psychology Today dava conta das tendências históricas de violência e fatores sociais e culturais que podem influenciar a agressão e de como ela estava atualmente a ganhar novos contornos em diferentes ambientes, como no caso da internet “Compreender o problema da agressão online é desafiante, mas é útil começar com uma das explicações fundamentais da agressão na literatura da psicologia social: a hipótese da frustração-agressão”, escrevia o autor. Vale muito a pena ler todo o artigo, disponível em inglês, e que cita vários estudos, mas num resumo muito resumido, e demasiado simplista, precisamos de saber isto: muitas vezes as pessoas que estão frustradas tornam-se violentas, e isso é particularmente verdade quando têm traços narcísicos de personalidade, o que significa que reagem violentamente ao facto de outros, que não eles, poderem ter mais protagonismo do que aquele que acreditam que lhes é devido. Ora, na internet o protagonismo medido em 'gostos' e visualizações' pode ser um problema para estas pessoas. E, portanto, os sentimentos de insegurança e a sua frágil autoestima, levam a uma linguagem muito mais violenta online (e muito mais agressiva do que se estivessem frente-a-frente com as pessoas em causa). Outra publicação da Harvard Medical School, dava conta, já em 2018, de que a maioria dos comentadores na Internet tenta rebater conteúdo (mesmo que científico) com a sua experiência pessoal e, portanto, a sua resposta, emocional, é amplificada “levando a uma linguagem mais forte do que usariam no mundo real”.Claro que tudo isto se liga, inevitavelmente, com o escalar do discurso agressivo em fóruns públicos e, como já aqui referi, legitimado até por governantes e representantes da nação. Numa altura em que o mundo está tão extremado, que há tantos problemas a precisar de soluções e que parece ser tão fácil dizer uma coisa e o seu contrário no mesmo dia, talvez seja importante termos estes dados na cabeça. Isso e a frase de Vasco Pereira Coutinho. Na dúvida, “as pessoas têm de acalmar, imediatamente”, e evitar escalar a tensão num ambiente que está tudo menos sereno. Ora aqui está algo que está nas nossas mãos e que podemos trabalhar todos os dias.