Os sucessos eleitorais da chamada direita radical, extrema-direita, nova direita, direita populista, direitas nacionais-conservadoras ou até neofascistas têm vindo a trazer grande preocupação e algum pânico à Esquerda e às esquerdas, ao centro e até à “direita da Esquerda”.A caracterização ideológica destes partidos e movimentos tem sido viciada pela hegemonia na Academia e na comunicação social dos inimigos da vaga que representam.Embora tendam a ser catacterizados caricaturalmente e em bloco, estes movimentos são muito diferentes entre si, até nos valores de orientação, – uns são mais conservadores, outros mais populares, uns mais liberais em economia, outros mais dirigistas. Mas têm duas características comuns: a hostilidade ao globalismo e ao que podemos chamar radicalismo cultural das novas esquerdas. Por isto, todos são nacionalistas, embora divergindo em religião, em costumes e em economia, o que, de resto, acaba por ser próprio dos nacionalismos.O sucesso destes movimentos está directamente relacionado, no Ocidente europeu e americano, com a reacção às consequências para as classes trabalhadoras e classes médias da desindustrialização e da deslocalização pós-Guerra Fria. Daqui veio um enriquecimento relativo dos super-ricos e das suas cortes tecnoburocráticas, do sector público e privado, e um empobrecimento ou penalização das classes médias e trabalhadoras.Por isso os estudos e reflexões de Werner Sombart sobre a distinção entre capitalismo industrial e capitalismo financeiro voltaram a ser de grande actualidade. Quando 2% ou 3% dos muito ricos multiplicam as suas fortunas e a grande maioria empobrece relativamente; quando há leques salariais em empresas europeias e americanas equivalentes a 600 vezes entre o mais alto e o mais baixo salário; quando nos Estados Unidos 60.000 fábricas fecharam em 30 anos, não é de admirar a popularidade dos populismos.Por outro lado, a Esquerda radical abandonou as “causas sociais”, da justiça no emprego e da defesa dos trabalhadores, para se dedicar a causas fracturantes dos mil géneros e dos direitos de minorias existentes e imaginárias. Esta agenda – que lembra as novas utopias e os “marxismos imaginários” dos anos 60, em delirante versão pós-moderna – está longe de ser popular fora dos meios “liberal-chic”.Este anti-globalismo – e em consequência, a preferência pelo nacionalismo e pela defesa da identidade nacional – e o reforço de valores tradicionais ou, pelo menos, a defesa da realidade biológica e dos costumes perante o experimentalismo das novas e identidades artificiais, são o denominador comum daquilo a que, por comodidade, podemos chamar “nova Direita” euroamericana.Quanto ao resto, estes partidos seguem os costumes das suas comunidades: por exemplo, o Rassemblement National francês ou a AFD alemã, aparecidos em sociedades mais laicizadas, tendem a ser menos conservadores em matéria de costumes e mais tolerantes em relação ao aborto ou à institucionalização da homossexualidade; já os polacos do Lei e Justiça ou os espanhóis do Vox são mais tradicionalistas, e os Fratelli italianos estarão, nestas matérias, ao “centro”.Também são várias as posições quanto ao intervencionismo estatal na Economia, entre liberais e até ultraliberais e dirigistas.Acima de tudo, na aceitação da liberdade de escolha de acordo com diferentes valores nacionais, a Direita aprendeu alguma coisa. Mas aprendeu também a unir-se para resistir aos inimigos comuns. Politólogo e escritorO autor escreve de acordo com a antiga ortografia