Aprender com os erros
Uma pequena polémica espoletou em Loures quando o presidente da câmara, Ricardo Leão, revelou a vontade de retirar as casas municipais àqueles que fossem provados criminosos. O partido é o PS e, pela primeira vez em muitos anos, o seu secretário-geral está na Oposição.
Qualquer polémica, agora, é prejudicial a Pedro Nuno Santos, que nunca teve perfil de líder de partido, apenas líder de polémicas, próprio de um enfant terrible. Exercer num lugar de responsabilidade, onde não deve acender ânimos, é-lhe difícil. Esse lugar chegou-lhe quase ao colo, por força das circunstâncias e de uma ala do partido que vê nele um qualquer D. Sebastião dos pobrezinhos.
Numa operação de charme, Pedro Nuno fez visitas, quase de Estado, aos bairros problemáticos, amainou as polémicas declarações do autarca de Loures, tentou ser aquilo que nunca foi, moderado. Mas eis que o fantasma do Commentadore d’O Banquete de Pedra se ergue da Europa, (onde sempre quis estar, embora não nas condições em que foi) e desautoriza-o, num artigo jornalístico demolidor.
António Costa é um dos que assina um texto que retira totalmente a autoridade ao actual secretário-geral do seu partido, abraçando com a sua capa aquela que se seguirá no seu apadrinhamento, Alexandra Leitão. Não há acção de Pedro Nuno que não seja contestada por Alexandra, agora, com o beneplácito régio do super-líder, do alto do seu cargo de presidente do Conselho Europeu.
Pedro Nuno não está numa boa fase: é desautorizado publicamente; as negociações para o Orçamento do Estado foram um enxovalho para o PS; o Chega ultrapassa-o pela direita, ou pela esquerda, em todos os domínios - veja-se o caso actual da Madeira. Consolidou em lugares das distritais pessoas da sua confiança, sem ser suficiente: não está a segurar o partido e não aprende com os erros.
Não é o único. As vozes dissonantes do seu partido também não. Não é um debate a preto e branco, como querem fazer crer. Uma coisa é certa: foi a partir de Loures que André Ventura se transformou no líder do Chega. E por culpa, também, da tomada de poder socialista na forma como António Costa liderou o processo geringonçal.
O Chega é muito um produto de reacção ao PS e ao vazio que surgiu para o combater. Ricardo Leão está a atenuar as arestas radicais de algumas das propostas do Chega, mas o seu partido não está a ver isto.
Quem dita as polémicas da Oposição no país já não é o PS, é o Chega. E como responde o PS? Guetizando as ideias e as propostas de André Ventura, em vez de as esvaziar. Depois queixem-se se, de 50, passarem para 60 ou 70. Porque pode acontecer.
Lembram-se quando Ventura foi candidato a Loures em 2017 e fez um partido em 2019? Alguém diria, nessa altura, que, apenas 5 anos depois, seria a terceira força política mais votada no país? Que iria de zero a 50 deputados? Pois. Continuem com as guerras internas.
O Chega agradece.
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.