Mal se soube da vitória de Zohran Mamdani na corrida a mayor de Nova Iorque, Alexandria Ocasio-Cortez logo saudava nas redes sociais o candidato democrata pela “vitória histórica”, garantindo “nada é impossível”, com uma fotografia dos dois juntos, sorridentes. A congressista de Nova Iorque foi uma das apoiantes da campanha de Mamdani, que conquistou os nova-iorquinos com promessas de transportes e creches gratuitas, alojamento a baixos preços e uma rede de lojas administradas pela cidade com preços baixos. E nem os ataques do presidente Donald Trump, que lhe chamou “comunista” e inimigo dos judeus por apoiar a causa palestiniana, tendo apoiado o ex-mayor Andrew Cuomo (que concorreu como independente depois de derrotado por Mamdani nas primárias democratas), foram suficientes para travar este muçulmano de 34 anos, nascido no Uganda, mas de origens indianas. AOC, como é conhecida, esteve ao lado de Mamdani no mês passado num comício em Queens sob o lema “Nova Iorque não está à venda”. E se falta um ano para as eleições intercalares, em que os democratas esperam recuperar o controlo de pelo menos uma das câmaras do Congresso, este resultado em Nova Iorque - e as vitórias também para os governadores da Virginia e New Jersey - pode ter dado ao Partido Democrata o otimismo de que tanto precisava. Meio letárgica desde a derrota de Kamala Harris face a Donald Trump nas presidenciais de 2024, a ala mais moderada dos democratas começou por desconfiar das posições progressistas e muitas vezes radicais de Mamdani, mas acabou por se render à sua capacidade para mobilizar, sobretudo os jovens, com uma mensagem de autenticidade. A questão que se levanta agora é se a vitória de Mamdani pode abrir a porta a uma já muito falada candidatura presidencial de AOC. A congressista de 36 anos é vista como uma liberal, pelos apoiantes, mas como uma perigosa radical de esquerda, pelos detratores. E mesmo no partido, as suas posições - como apoiar cooperativas de trabalhadores, saúde para todos, universidades públicas gratuitas, acabar com o ICE (o Serviço de Imigração e Controlo de fronteiras dos EUA) ou impor uma taxa de 70% de impostos aos ricos para financiar um New Deal para o clima - são consideradas extremas pelos mais moderados. A verdade é que essa ala moderada tem tido dificuldade em obter resultados nesta era Trump, com o republicano a bater Hillary Clinton em 2016, para perder para Biden em 2020, mas voltando para derrotar Kamala Harris em 2024. Com os possíveis candidatos a 2028 a acumular-se no campo democrata - do governador da Califórnia, Gavin Newsom, ao ex-secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, uma AOC pode causar surpresa nas primárias. Um pouco como o próprio Trump em 2016, ganhando a rivais mais tradicionais como Jeb Bush, Marco Rubio ou Ted Cruz. Faltam três anos para as presidenciais e os dados já estão lançados. Mas a América não é Nova Iorque. Editora-executiva do Diário de Notícias