Esta guerra não corre de feição à Rússia. Estas ameaças de Putin de utilização de armas nucleares têm claramente um propósito negocial. Visam relembrar que uma superpotência nuclear não pode ser considerada em plano de igualdade com um país sem armas nucleares. Testam a reação das principais potências ocidentais, em especial a dos EUA. Visam sublinhar ainda que uma potência com armas nucleares não pode ser derrotada numa guerra convencional por um país sem tais armas. E que, se este último não perceber isso, sujeita-se à utilização destas armas pela potência nuclear. Se uma "vitória da Ucrânia" incluir não apenas a reconquista de todo o Donbass (onde uma parte significativa da população se considera russa), mas também da Crimeia - posição sustentada ultimamente pelo presidente ucraniano - podemos estar seguros de que a Rússia não usará armas nucleares táticas? Uma arma nuclear tática pode destruir uma cidade média, abre um perigoso precedente e terá consequências imprevisíveis. Os prosélitos da continuidade da guerra "até à derrota total da Rússia" deviam ter presente que a História mostra que um mau acordo é melhor que uma boa demanda, as fronteiras políticas decorrem de relações de poder e as fronteiras na Europa mudaram bastante nos últimos cem anos. E quem está na linha da frente, para além dos ucranianos, não são os americanos ou os chineses, são os europeus...