Num recente podcast com o venture capitalist Brad Gerstner, o CEO da OpenAI, Sam Altman, ficou muito enxofrado quando interpelado sobre como é possível uma companhia com rendimentos de 13 mil milhões de dólares / ano comprometer-se com investimentos de 1,4 biliões de dólares em infraestrutura de inteligência artificial (AI). Os [muitos] analistas referindo a existência de uma bolha das principais empresas tecnológicas americanas – que representam >30% da capitalização bolsista dos EUA – ficaram apreensivos. Afinal de contas, a OpenAI é considerada a ponta de lança das tecnológicas desenvolvendo AI e Sam Altman o sumo sacerdote do setor.É importante ter presente que, apesar de as cotações das tecnológicas revelarem um rácio P/E superior à da generalidade das empresas cotadas em bolsa, a maioria delas é bem gerida em termos financeiros. Nenhuma tecnológica tem uma desproporção tão grande entre rendimento gerado e endividamento similar à da OpenAI. Mas se a OpenAI não cumprir as suas obrigações financeiras, a Oracle – que tem uma dívida significativa, com um índice de dívida/património de 427% e se comprometeu a investir US$ 300 mil milhões em infraestrutura de dados e serviços de cloud para a OpenAI – também enfrentará riscos significativos.Tal como atualmente em relação à AI, também a Revolução Industrial no século XIX gerou enormes expectativas, então relativamente à ferrovia. Nos EUA, de 1866 a 1873, foram construídos cerca de 56.000 quilómetros de carris ferroviários. Porém, construir linhas férreas era um empreendimento muito dispendioso e só gerava receitas após a ferrovia estar concluída e em operação. Muitas empresas ferroviárias recorreram, então, a vultosos empréstimos bancários para financiar as suas operações. A construção da ferrovia no século XIX foi [em percentagem do PIB] o maior investimento de capital da história dos EUA, bem superior ao que as empresas de AI gastam atualmente em data centers, tendo-se os caminhos-de-ferro tornado então o maior empregador não agrícola.Em 1873, vários empréstimos à construção de caminhos-de-ferro entraram em incumprimento, criando uma crise bancária que mergulhou a economia americana numa depressão por uma década.A ferrovia veio a revelar-se ainda mais relevante economicamente – e lucrativa – do que os seus impulsionadores nas décadas de 1860-70 imaginavam. Não obstante, houve uma grande crise em 1873, porque esses benefícios económicos não surgiram antes do vencimento dos prazos das dívidas das companhias ferroviárias.O colapso financeiro ferroviário não aconteceu por a América haver construído demasiadas linhas ferroviárias, pelo contrário. O problema foi que as empresas ferroviárias americanas construíram e financiaram os seus caminhos-de-ferro mais depressa do que conseguiram gerar receitas. Repetir-se-á a história com AI? Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira