Afinal o que é que distingue a realidade da verdade?
Sam Altman convidou Scarlett Johansson a emprestar a voz para a versão 4o do ChatGPT. Scarlett disse que não.
E eis senão quando, 9 meses depois, que até é por acaso o período de incubação, os amigos da atriz lhe dizem que o novo sistema da Open AI, denominado Sky, “soava como ela”. Após uma quase batalha legal, Altman retirou a voz de Scarlett Johansson da aplicação.
Então… uma aplicação de Inteligência Artificial pode, ou não, usar a nossa voz? Não, não pode. Mas e se a usar? Essa voz, a nossa, a da Scarlett, a minha… é ou não é verdadeira? É ou não real?
Eu diria que é real. Porque a ouvimos. Mas não é verdadeira, porque quando a ouvimos, apesar de não ser a voz da Scarlett, ela existe, mas não é autêntica.
É neste mundo real, mas mentiroso, que teimamos desbravar.
Então o que distingue a verdade da realidade?
Não sabemos. Eu diria que, claramente, não sabemos mesmo.
Uma coisa real, pode não ser verdadeira, pois real quer dizer que existe. Seja verdadeiro ou não. Porque a mentira existe! Logo a mentira também é real.
E dizer que a Inteligência Artificial não é real, também não está certo. Porque ela existe.
Existe num mundo de mentira. Existe num mundo de reproduções nascidas de imagens, sons e vídeos verdadeiros.
A verdade tem uma relação óbvia com a autenticidade. Logo a voz da Scarlett é real, mas é mentirosa. Não é autêntica. Não é dela. É uma cópia. Não é verdadeira.
A facilidade com que se consegue reproduzir texto, imagem ou som é um misto de espetacular com assustador. Ajuda, mas pode prejudicar. Resolve, mas pode comprometer.
Não quero entrar numa espiral de argumentos da luta do bem contra o mal no âmbito da Inteligência Artificial, mas na verdade, a moeda tem duas faces. E a moeda da Inteligência Artificial não é diferente.
Porque, hoje é a Scarlett numa aplicação, amanhã é um outro nome qualquer numa gravação que o coloca num cenário paralelo à realidade. Desculpem... que o coloca num cenário paralelo à verdade, porque se o vemos ou se o ouvimos, ele é real. Ele existe.
Mas lá por existir, isso não quer dizer que seja verdadeiro. Certo?