Pergunta o candidato Gouveia e Melo a propósito da notícia que envolve o seu nome. Se o Senhor Almirante ainda não percebeu é muito simples: ainda não é acusado de nada, não é assim que funciona. Para um candidato presidencial, deveria se informar melhor de como isto se processa e deixar a Justiça trabalhar. Está apenas a ser investigado um conjunto de 57 ajustes directos que foram feitos entre 2017 e 2020, em que alguns deles foram autorizados por Gouveia e Melo quando era então o Comandante Naval. Está sob investigação, não é uma acusação.O Tribunal de Contas perdoou, mas não quer dizer que não tenha havido irregularidades: por isso mesmo a investigação continuou no DIAP de Almada e com a Polícia Judiciária Militar. Acrescenta o candidato que isto é uma cabala. Bom, este caso não é novidade, já apareceu na comunicação social em 2024. A novidade é que continua a ser investigado pelo Ministério Público. Podemos é esclarecer o Senhor Almirante de que é perfeitamente legítimo os portugueses serem elucidados se um candidato ao mais alto cargo do país, um putativo Chefe de Estado, está a ser ou não investigado. É a democracia a funcionar. Ninguém o acusou ou disse ser culpado: há que apurar factos. Da mesma forma que Gouveia e Melo quer que Marques Mendes exponha a lista de clientes enquanto advogado, para se saber até que ponto poderá ter tido benefícios de lobby ou outros (antes da lei do lobby ser aprovada), é natural que a Justiça queira saber o final de uma investigação que remete a ajustes directos que envolve uma instituição como a Marinha. É uma questão de transparência. E nenhum candidato presidencial deverá insurgir-se contra a transparência.Esperemos que o senhor Almirante compreenda isto e que continue o seu caminho.E nós também. Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico