A “queixa anónima” e o “não vi” do PGR

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O número de circo que o Chega montou na sexta-feira com as tarjas nas paredes da Assembleia da República - alusivas ao fim dos cortes das subvenções aos políticos que tinham sido decretados “provisoriamente” no tempo da troika, com o país na bancarrota - está a correr particularmente bem para André Ventura. Não apenas marcou o dia em que se aprovou o Orçamento do Estado, como continuou ontem a dar-lhe  tempo de antena.

Na sessão de variedades de ontem, Ventura teve oportunidade de, qual herói dos oprimidos, dar conferência de imprensa a assumir “toda a responsabilidade” de tal ideia e dos atos. Isto porque  houve notícias de que há pelo menos uma “queixa anónima” sobre o tal “vandalismo” na AR: os panos nas janelas, que foram removidos em segundos. Denúncia que leva automaticamente o Ministério Público a investigar o caso.

Curiosamente, ou não, estes novos “acontecimentos” eram escusados, tivesse o procurador-geral da República, Amadeu Guerra, estado um pouco mais atento às notícias na própria sexta-feira. Quando questionado, pelas televisões, se considerava se havia matéria de investigação criminal no ato do partido Chega, o novo PGR respondeu (no tom mais genuíno de quem diz em tribunal não ter memória dos factos): “Não vi.” E se o PGR não viu - e aparentemente nenhum outro procurador também não viu o que todo o país viu -,lá foi preciso chegar a já quase obrigatória denúncia anónima!

Por falar em denúncia anónima... também foi uma dessas (e não um processo da Administração Pública) que levou a abrir um processo contra Luís Montenegro, ontem arquivado, sobre alegados benefícios fiscais ilícitos à casa do atual PM em Espinho - que surgiu, por pura coincidência, claro, por alturas da campanha eleitoral.

Com uma Justiça que parece oscilar entre os que não veem o que todos viram e as denúncias anónimas, que quando quer mostrar serviço abre megaprocessos ineficazes ou faz espetáculos com aviões fretados à Força Aérea, de facto mais vale montar a tenda e chamar os trapezistas.  Os restantes artistas já cá estão.

Editor do Diário de Notícias

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