Quando a 1 de janeiro e 1973, a Irlanda aderiu à então CEE era ainda um dos países mais pobres da Europa, com uma economia dependente da agricultura e a braços com pobreza, desemprego elevado e forte emigração. Mas duas décadas depois, essa mesma Irlanda tornava-se o Tigre Celta, encetando uma década de rápido crescimento económico - com taxas acima dos 9% entre 1995 e 2000 - alimentado pelas exportações de produtos tecnológicos e farmacêuticos. É verdade que a bolha imobiliária acabaria por rebentar em 2008, mandando a Irlanda para o grupo dos “maus alunos” da entretanto rebatizada União Europeia com Portugal, Grécia e Espanha - os chamados PIGS - durante a crise financeira. Mas depressa se reergueu. Hoje, as previsões apontam para um impressionante crescimento de 10,7% em 2025, graças às exportações excecionais da primeira metade do ano, antecipando as tarifas dos EUA, baixando para uns bem mais modestos 0,2% em 2026, antes de estabilizar nos 2,9% em 2027.É esta mesma Irlanda que na segunda metade de 2026 vai assumir a presidência rotativa do Conselho da UE. Foi em preparação para a sua presidência que o ministro de Estado, dos Assuntos Europeus e da Defesa irlandês, Thomas Byrne, passou esta semana por Lisboa. E em conversa com o DN recordou como, “quando era criança, os maiores benefícios [de estar na UE] eram as transferências de dinheiro” e como “a UE contribuiu muito para a nossa[ da Irlanda] infraestrutura”. Hoje, sobretudo depois de verem o que aconteceu no Reino Unido depois do Brexit, os irlandeses não têm dúvidas de que “a UE é muito, muito boa para a Irlanda”. Seja na facilidade de viajar ou nas vantagens para a economia, “os prós superam largamente os contras.”Com uma presidência da UE que promete focada na competitividade e defesa dos valores e democracia europeus, a Irlanda não esquece, claro, a defesa e segurança entre as suas prioridades. Até porque os drones detetados sobre o Mar da Irlanda durante a visita a Dublin do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, no início do mês, não deixam dúvidas de que a Irlanda não está a salvo do que o presidente do Conselho Europeu, António Costa, identificou dias depois, como “mais um ataque híbrido da Rússia”.Apesar da ameaça, Byrne garante que a Irlanda não pensa seguir o caminho de Suécia e Finlândia que, após a invasão da Ucrânia, em 2022, abandonaram a neutralidade militar e aderiram à NATO. Mas ressalva: “Não fazemos parte de uma aliança de defesa. Mas quando a Rússia invadiu a Ucrânia, não fomos moral, nem politicamente neutros.”Garantindo ter aprendido com a última presidência portuguesa da UE, em 2021, em pleno covid, que é preciso “lidar com os problemas à medida que eles surgem”, o ministro irlandês destacou ainda o que, apesar de todas as diferenças, une os dois países: “O compromisso com o multilateralismo, o compromisso em manter boas relações de ambos os lados do Atlântico, e em sermos parceiros pragmáticos e construtivos na mesa europeia.”Editora-executiva do Diário de Notícias