A lição do apagão

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O apagão que ocorreu esta semana em Portugal e Espanha deixou-nos algumas lições sobre as quais seria positivo refletirmos, com vista a precaver situações futuras.

Ainda não se conhecem as causas do sucedido. Em Espanha, as autoridades abriram um inquérito e não excluem a possibilidade de um ciberataque, mas poderá haver outra explicação mais singela. Porém, seja qual for a causa, ficou patente a vulnerabilidade das nossas infraestruturas críticas. E esta será a primeira grande lição a retirar.

A segunda é que os grandes problemas que ocorreram não terão sido ao nível da comunicação do Governo (apesar de várias falhas) ou da Proteção Civil, ao contrário do que Pedro Nuno Santos defendeu no calor do momento. A verdadeira falha foi sobretudo o facto de, nos últimos anos, não se ter procurado diminuir a dependência energética face a Espanha. Mais: em 2022, quando se encerraram as centrais elétricas de Sines e do Pêgo, houve quem alertasse para o risco de um apagão, por não haver alternativas. Mas esses alertas foram ignorados pelo governo liderado por António Costa, do qual, recordemos, o atual líder do PS fez parte.

A falta de preparação verificou-se também em aspetos como o provisionamento de gasóleo para os geradores dos hospitais, que seria suficiente para apenas 48 horas. O que aconteceria se o apagão tivesse durado três ou quatro dias? Sem um reforço das reservas de gasóleo, que teria de ser assegurado em tempo recorde, os hospitais ficariam sem eletricidade, o que teria consequências dramáticas que nem precisamos de referir. É, pois, necessário aprender com esta experiência.

A terceira conclusão a retirar diz respeito à necessidade de tentar blindar, na medida do possível, os sistemas de telecomunicações. Isto para que possam manter um nível mínimo de funcionamento durante uma situação extraordinária em que a rede elétrica esteja desligada. Se as comunicações não tivessem caído durante várias horas, a atuação da Proteção Civil teria sido mais eficaz e o impacto na economia - que, ao dia de hoje, ainda não foi quantificado - teria sido mais limitado.

A quarta lição foi a forma ordeira como a população respondeu a esta situação. Os portugueses deram mostras de grande maturidade, civismo e confiança nas autoridades, apesar da falta de informação e do isolamento provocado pelo corte das comunicações. Merecem um especial agradecimento coletivo as equipas das empresas de energia, águas e telecomunicações, os agentes das forças de segurança, os médicos, os enfermeiros e os técnicos do INEM, os professores, os auxiliares das escolas e outras pessoas que ajudaram a manter a ordem e os serviços essenciais.

Por fim, temos aquela que será a grande lição do apagão: não podemos dar por adquiridos o nosso modo de vida e as nossas liberdades. Temos de estar preparados, enquanto indivíduos e como sociedade, para enfrentar estes eventos que, de um dia para o outro, podem colocar o nosso mundo de pernas para o ar. E no meio de todo o azar, tivemos a sorte de poder aprender com este incidente sem que até ao momento se tenham registado vítimas mortais.

Nota da Direção: O DN não esteve ontem nas bancas. Este facto, que lamentamos, deveu-se ao apagão, que, para além de ter levado ao corte das comunicações na redação do DN, dentro e fora da nossa sede, obrigou pouco depois à evacuação deste edifício de 16 andares. Não foi possível encontrar, em tempo útil, alternativas que permitissem a produção do jornal impresso, apesar de, com grande esforço, termos feito a cobertura ao minuto da atualidade noticiosa, nos nossos canais digitais.

Somos os primeiros a lamentar profundamente o sucedido e pedimos sinceras desculpas aos leitores e anunciantes pela ausência da edição impressa.

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