A insustentável leveza de Alexandra
Milan Kundera, na sua obra-prima A Insustentável Leveza do Ser, leva-nos a refletir sobre as escolhas humanas, as contradições e as incoerências que definem as nossas vidas.
Quando observamos Alexandra Leitão, candidata do Partido Socialista à Câmara Municipal de Lisboa, não podemos deixar de pensar na leveza insustentável que marca a sua trajetória política recente. Leveza essa que, ao contrário da obra de Kundera, não resulta de uma existência introspetiva, mas sim da incoerência entre as suas palavras e as suas ações.
Recentemente, Alexandra Leitão participou numa manifestação contra a operação policial no Martim Moniz, levada a cabo pela PSP para reforçar a segurança pública numa zona sensível da cidade. A candidata liderou as críticas, classificando a intervenção como um ato de estigmatização das comunidades imigrantes. Contudo, não tardou para que o seu posicionamento se revelasse política e moralmente frágil.
Num volte-face notável, Pedro Nuno Santos criticou as falhas do Partido Socialista nos últimos anos em matéria de políticas de imigração, admitindo que o partido não soube gerir adequadamente a integração de comunidades imigrantes, nem planear de forma eficaz o impacto social e económico das dinâmicas migratórias, destruindo o dogma ideológico que encerrava o posicionamento de Alexandra.
E agora?
Como sustentar uma crítica tão veemente à operação da PSP quando o próprio partido admite que as suas políticas contribuíram para a degradação do contexto social que levou a tais intervenções?
Nos últimos tempos, casos graves de violência atroz contra mulheres no Martim Moniz trouxeram à tona questões de segurança pública e de proteção das vítimas, perante o silêncio ensurdecedor de Alexandra Leitão.
Este silêncio contrasta de forma gritante com as suas posições em defesa da proteção das mulheres quando, por exemplo, em 2024, durante a Academia Socialista, propôs penalizar entidades que ignorassem casos de violência doméstica, destacando a necessidade de ações concretas na defesa das vítimas.
Lisboa, uma cidade profundamente marcada pela diversidade cultural, enfrenta desafios reais no equilíbrio entre inclusão social e segurança pública. Estes desafios exigem uma liderança firme, clara e coerente.
E o Martim Moniz não é apenas um bairro em Lisboa; é um símbolo dos desafios da cidade.
Um candidato que aspire a liderar Lisboa deve compreender que é possível integrar as comunidades imigrantes sem negligenciar as preocupações legítimas dos residentes sobre a segurança e a qualidade de vida.
Tal como no romance de Kundera, onde as escolhas humanas são analisadas sob o prisma do eterno retorno, a política também exige responsabilidade pelas escolhas feitas.
Alexandra Leitão parece navegar num mar de leveza política, confortável, mas insustentável. Claudica na convicção. E não há nada mais perigoso para uma cidade como Lisboa do que ser conduzida por uma liderança sem convicção, sem profundidade e sem visão. Lisboa merece mais.
Deputado e presidente da concelhia PSD em Lisboa