A Génese do Capitalismo (II)

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Sei bem que é arriscado escrever fora das agendas mediáticas. O país, e o mundo, está mergulhado em polémicas que, em alguns casos, têm a duração do incêndio de um fósforo ou o tempo suficiente para nos entreter até à polémica seguinte. Não desvalorizo o que está na primeira linha das preocupações, mas prefiro oferecer o meu pequeno contributo para que possamos pensar sobre o que é estrutural.

Dentro de uns dias, no final de Setembro, estarei no WCM, em Belo Horizonte, e o tema central da minha reflexão será o capitalismo. Insistirei no tema, no dia 27 de outubro, no Global Innovation Coop Summit, em Torres Vedras. Proponho que as próximas crónicas, na sequência da publicada sobre o titulo “Apologia de um Capitalismo Consciente” (I) , versem capitalismo, escrevendo sobre a criação de valor (III), Capital do capitalismo (IV) e Capitalismo de Estado (V).

Começo pelos alicerces. O capitalismo é o que nós quisermos que seja. É o que o Homem quiser. O capitalismo permite ao ser ter. É a mobilidade de pessoas, bens e serviços que permite a criação de valor. E o valor pode ser transformado em capital, seja ele social, económico ou reputacional. Seja o que for, é capital. É o verbo.

Logo no início dos tempos em que a memória permitiu fazer história, o homem recolector trabalhava em grupo e vivia em comunidade. Começámos a transportar cada vez mais longe, controlando melhor o tempo e o risco. E para melhor monitorizar o capital criámos a moeda, mas também as regras e as instituições para as coordenar e gerir. Os seres humanos têm uma propensão inata para criar e seguir normas e regras. Uma vez que as instituições são essencialmente regras que limitam a liberdade individual de escolha, podemos afirmar que os seres humanos possuem uma inclinação natural para criar instituições. As regras podem ser racionalmente construídas por indivíduos que calculam como maximizar o seu interesse próprio, o que exige que estabeleçam contratos sociais com outros indivíduos. Capacidades cognitivas que permitem resolver problemas cooperando socialmente. Suportado em regras o homem confiou os seus recursos a quem o sabia fazer. A essa intermediação chamou-se atividade bancária. E denominou-se de capitalização de valor à função de criação de importância. Tudo isto foi garantido pelas instituições.

Só que o capital não chegava a quem vivia longe dos centros de decisão. Perceberam decerto onde quero chegar. A Friedrich W. Raiffeisen que, há quase 200 anos, replicou o exemplo do “homem recolector”, ao criar instituições de cooperativas de crédito agrícola, suportado na autoajuda, autorresponsabilidade e autoadministração. Noutro artigo terei oportunidade de vos escrever sobre os sete princípios de gestão fundadores, iluminados e atuais princípios.

Muitas instituições financeiras de crédito cooperativo agrícola conquistaram relevo nas nossas cidades e vilas. A sua principal instituição é o Banco de Portugal. É regulador e supervisor. E é no cumprimento das suas regras que os mutantes confiam os seus recursos, o seu capital. São os nossos capitalistas.

Presidente da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Torres Vedras

manuel.guerreiro@ccamtv.pt

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