Luís Montenegro fez toda uma campanha eleitoral prometendo “estabilidade” e “responsabilidade”. E depois, passados menos de dois meses da tomada de posse, agita por completo as águas do país, sobressaltando famílias e trabalhadores, com a apresentação de um projeto de enorme revisão da lei laboral.A contestação inicial foi logo imensa e tem vindo a crescer. Não só pelo conteúdo do anteprojeto do governo mas pela intransigência e pela arrogância que a Ministra do Trabalho e que o próprio Luís Montenegro têm demonstrado ao longo destes meses.Além deste anteprojeto pretender alterar profundamente a relação entre trabalhadores e empregadores, aumentando a precariedade, reduzindo o tempo livre e em família, reduzindo a liberdade sindical e o direito à greve, entre tantas outras coisas, o governo quer negociá-lo sem deixar cair as suas “traves mestras” e desmerecendo por completo aqueles com quem estará a negociar (esperamos) de boa fé, nomeadamente sindicatos e a UGT.A desfaçatez culmina com a postura face à greve geral de hoje. Uma greve acusada de ter motivações políticas (como se houvesse greves por razões não políticas), de ser inoportuna, incompreensível, anacrónica, extemporânea. Ora, uma greve geral nunca é marcada de ânimo leve. Foi o governo que levou à marcação desta greve com este anteprojeto “Trabalho XXI” e com a desastrosa condução do processo desde então.Incompreensível é esta postura por parte de um governo suportado por uma minoria parlamentar. Ou não será tão incompreensível assim quando percebemos quem estará disponível para apoiar esta precarização do trabalho e desapoio das famílias. Luís Montenegro sempre a faltar à sua promessa do “não é não” e, pelo caminho, arrasta as famílias e a democracia para a instabilidade. Onde está a tal promessa de campanha eleitoral?Esta greve geral não é apenas contra o anteprojeto “Trabalho XXI”. É também contra o que o motivou: uma visão anacrónica de sociedade, onde a economia não funciona da mesma forma para todos, onde a flexibilidade é sinónimo de instabilidade, onde os direitos se torcem para (supostamente) fomentar o negócio. Contra uma visão de sociedade que não aproveita a inovação tecnológica para trazer o trabalho verdadeiramente para o século XXI, permitindo que todas as pessoas tenham vidas mais estáveis e mais preenchidas, com mais tempo e mais rendimento. Contra uma visão de sociedade ingrata por todas as lutas passadas que nos deram direitos tão básicos como fim-de-semana, férias, salário mínimo. Contra uma visão de sociedade que olha para as greves como um incómodo a abolir, sem reconhecer o papel que esta forma de protesto teve e tem na obtenção desses direitos. Contra uma visão de sociedade que desdenha os sindicatos, as negociações e os consensos. E, por tudo isto, esta greve nos diz respeito a todas e a todos.Se Luís Montenegro está verdadeiramente preocupado com a estabilidade do país, só tem um remédio: deitar fora esta sua reforma laboral. Assim, não avançará com uma reforma que nunca perduraria no tempo e acalmará as águas que agora agitou.Líder parlamentar do Livre