A grande noite de Kamala

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Escrevo nas horas após o primeiro (e único?) debate entre Trump e Kamala Harris. Ainda extasiado com aquilo a que assisti, assim como certamente muitos milhões de americanos.

Trump perdeu o debate com estrondo, porque Trump foi Trump. Enfureceu-se com os ataques de Kamala, mentiu, insultou, atacou os moderadores, praticamente não apresentou uma ideia aos americanos. Ao contrário do debate com Biden, foi arrogante desde o início, falando apenas para o seu eleitorado, incapaz de pensar ou falar para os eleitores moderados.

Kamala Harris ganhou porque estava muito melhor preparada. Defletiu os ataques na economia ou na imigração, falou às classes médias e às mulheres, e levou um Trump cada vez mais alterado a contar mentiras sobre imigrantes que comem animais domésticos, entre outras grosserias e absurdos totalmente inventados. Trump mostrou falta de coragem no tema do aborto, repetiu as mentiras sobre as eleições de 2020, continuando a dizer que as ganhou.

Na verdade, as expectativas a caminho deste debate propiciaram também este resultado. Trump tinha ganhado debates em várias eleições anteriores, como contra Hillary Clinton ou mais recentemente Biden, levando mesmo à desistência do presidente em exercício. Kamala Harris precisava de se apresentar aos americanos (muitos diziam antes do debate que precisavam de a conhecer melhor), mas as expectativas foram propositadamente colocadas nos mínimos.
Estas eleições continuarão muito disputadas, porque serão decididas por alguns milhares de eleitores nos Estados mais renhidos, como a Pensilvânia ou a Geórgia.

Os Democratas saem energizados deste momento decisivo da corrida presidencial. Os fundos decisivos para o financiamento da campanha chegarão ainda mais, alimentando uma campanha forte nos Estados decisivos. Os ativistas estarão nas ruas a mobilizar as pessoas para o voto.

A vitória de Kamala é uma possibilidade real, que apenas há poucas semanas parecia uma miragem, no momento em que assistimos à desistência de Biden.
Em paralelo com o debate, Taylor Swift entrou na corrida, ao declarar publicamente o seu apoio à candidata democrata. É conhecido o efeito que a cantora tem na mobilização de eleitores jovens, o que poderá ser decisivo em Estados onde a eleição se decide por alguns milhares de votos. As mulheres americanas, por seu lado, seguirão ainda mais Kamala, depois do debate de ontem.

A democracia tem uma oportunidade. O Mundo, de um modo esmagador, anseia que Trump não volte à Casa Branca. Trump conta com o apoio de Viktor Orbán, o autocrata atualmente primeiro-ministro da Hungria, como ontem afirmou orgulhosamente no debate - mas muito pouco mais.

Mesmo na América, muitos republicanos destacados apoiam agora Kamala, dizendo que Trump não pode entrar novamente na Casa Branca - lista à qual se juntou até Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush e absolutamente insuspeito de simpatizar com o Partido Democrata.

A América e o Mundo podem ter começado a mudar para melhor.

4 valores: Lucília Gago

Quase no final do mandato, a PGR lá prestou alguns esclarecimentos à Assembleia da República. Altiva e insensível às consequências da sua ação para a democracia. Das campanhas orquestradas contra a PGR, recusou-se a substanciar. Das fugas ao segredo de justiça, disse nada. As escutas durante anos a fio, está tudo controlado… Não deixará saudades.

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