Todos os candidatos que, hoje, concorrem ao cargo de Presidente da República de Portugal sabem ao que vão. O Presidente da República portuguesa é o supremo magistrado da Nação. É o representante de todos nós onde quer que se encontre. É o Comandante Supremo das Forças Armadas com tudo o que isso implica num tempo em que uma nova guerra parece estar a bater-nos à porta. Ao futuro Presidente da República pede-se que nos represente com distinção, educadamente, com sentido de Estado, com firmeza, mas com moderação.O futuro Presidente da República será um pivot no relacionamento com as outras instituições nacionais. Deve poupar a sua palavra, moderá-la, contidamente, para quando a quiser usar ser escutado com respeito. O seu relacionamento com o Governo tem de ter uma boa dose de diplomacia, sensatez, equilíbrio emocional.No dia-a-dia ou nas grandes crises que venham a acontecer, o país vai olhar para o futuro Presidente da República como o garante da Constituição, da nossa soberania, o defensor dos nossos interesses no território nacional e no exterior. Terá de ser alguém que coloque equilíbrio no contexto nacional, que faça pontes, que desdramatize quando as situações fiquem sem controlo. Que defenda os interesses nacionais, sem pôr em causa as prioridades de outros Estados, a sua representação, os interesses peculiares que cada país tem no seu próprio contexto.O próximo Presidente da República terá de avaliar as leis que lhe são apresentadas com cautela, com equilíbrio, percepcionando a qualidade jurídica das mesmas. Do próximo Presidente da República exige-se uma frieza emocional, um conhecimento rigoroso da nossa História, uma cultura vasta e sólida que não deixe Portugal mal representado seja nos grandes fóruns internacionais ou na mais recôndita e modesta aldeia portuguesa.Como sempre acontece o Presidente da República portuguesa, depois de eleito, é alguém acima dos partidos políticos. Que fala com eles e os ouve enquanto representantes das várias sensibilidade político-partidárias que atravessam o todo nacional. Não deve, nem pode, tomar partido. Deve manter uma saudável distanciação, ouvi-los, pacientemente, reduzir os exageros, modelar os interesses, procurar com a ajuda de todos uma saudável unidade nacional que ponha o interesse nacional à frente da mesquinhez e da avareza partidárias.Ao próximo Presidente da República portuguesa exige-se experiência de vida, um rigoroso e distanciado conhecimento das últimas décadas da História do país, uma vivência do mundo que nos rodeia. Educação e cultura não podem faltar na função presidencial.Tudo isto vem a propósito do que assistimos nos últimos dias da parte do deputado e candidato presidencial André Ventura.Deslocadas referências a Salazar de quem, provavelmente, não sabe e, seguramente, não viveu o atraso e sofrimento que a ditadura de Salazar provocou em Portugal durante a vigência da sua “governação”.Os excessos de Ventura a que o país assistiu no final da discussão do Orçamento de Estado não envergonham apenas o Parlamento. Lançam descrédito sobre todo o país, retiram credibilidade à representação parlamentar.Há uma estranha infantilidade quando um deputado, no caso vertente candidato presidencial, se exprime atirando papéis pelo ar como um qualquer estudante mal comportado. Não pode valer tudo para uma eventual conquista de votos. É necessário algum decoro, um pouco mais de contenção. Uma maior prioridade aos verdadeiros problemas do país, em vez de uma postura de mau teatro revisteiro, de exageros verbais, de atitudes insensatas e impróprias num Parlamento nacional.Há, apesar de tudo, na extrema-direita europeia, representada por Marine Le Pen em França, ou Alice Weidel, da AfD, na Alemanha, uma maior solidez nos argumentos, mais sensatez na argumentação política, concorde-se ou não com as suas ideias. Há menos “circo” e uma noção mais sustentável do projecto político que defendem. Por outras palavras menos palhaçada.A futura escolha presidencial que Portugal vai fazer tem de cuidar dos aspectos descritos atrás. Isso é vital para que a futura função presidencial não vá pela valeta abaixo. Jornalista