Este ano, quase não se deu por aquela estação conhecida como silly season (estação tola) — expressão britânica do século XIX que designa o período estival, em que, com o Parlamento em pausa, os jornais enfrentavam escassez de notícias relevantes e recorriam a conteúdos mais leves ou curiosos para manter o interesse dos leitores. Hoje, com as redes sociais, esse tipo de conteúdo deixou de ser exclusivo do verão. A convivência entre o trivial e o essencial tornou-se permanente. Ainda assim, há quem não tenha percebido que, para quem ocupa funções políticas de responsabilidade, os intervalos são escassos — em qualquer estação. Na Administração Interna, por exemplo, o verão traz incêndios e calor extremo; o inverno, inundações e frio excessivo, num país onde muitos vivem em pobreza energética. De dia, há acidentes e uma segurança invisível que precisa de ser garantida; à noite, surgem as situações mais graves. É apenas uma amostra da exigência que recai sobre quem ocupa esta pasta, onde se espera resposta pronta e disponível, para garantir segurança e sobretudo inspirar confiança. Talvez por isso a rotação de ministros nesta área seja tão elevada. No cargo de Primeiro-Ministro, a exigência é ainda maior. Não há desculpa que justifique a ausência do posto de comando ou a falta de explicações em circunstâncias difíceis — seja por uma festa partidária em vésperas de eleições autárquicas ou por um merecido repouso numa barraca de praia. Não pretendo, com isto, atribuir ao Governo a culpa pelos últimos incêndios, ao contrário do que faziam quando eram oposição. Reconheço a complexidade das causas, a dificuldade do combate e os desafios da prevenção. Sei também o quão doloroso é ver morrer quem combate as chamas ou perceber que muitos dos que perderam tudo já não terão tempo nem energia para recomeçar — para voltar a criar cabras ou ovelhas, para ter o que lhes dar de comer. Em 2017, ouvi especialistas sugerirem medidas concretas de curto e longo prazo para prevenir ou atenuar tragédias semelhantes. Não me tornei um deles, e por isso não tenho soluções milagrosas. Aprendi que não é fácil e que exige persistência, e também não ignoro que a gestão desordenada do território — uma casa aqui, outra acolá no meio de campos e florestas — persiste, mal se apaga da memória o momento de aflição, e que o país continua a concentrar-se em duas áreas metropolitanas, sem que se tomem medidas eficazes para contrariar essa tendência. Por isso, ouçam quem sabe, quem está no terreno, quem vive o problema antes que ele vire manchete. Não desfaçam o que foi construído com um grande esforço após a tragédia de 2017. O país não precisa de discursos decorativos nem de promessas recicladas. Precisa de um compromisso político real, eficaz e duradouro. Não há tempo para retrocessos nem para medidas requentadas que já estão em vigor — como a isenção de taxas moderadoras, que qualquer utente minimamente atento ao SNS sabe que não é novidade desde 2022. Infelizmente, parece que há quem continue no Governo em modo de “notícia tola”. Ex-deputada ao Parlamento Europeu