A análise que o DN faz neste dia sobre o estado das escolas públicas no final do primeiro período de aulas é muito mais do que uma listagem de horrores. Vejamos: um número não revelado, mas na casa das dezenas de milhares, de alunos sem pelo menos um professor três meses depois de o ano letivo começar; dezenas de milhares de computadores avariados e empilhados nas salas; números recorde de docentes a sair da profissão sem serem repostos; centenas de escolas com obras prometidas, mas nunca feitas. Das 446 greves de funcionários públicos registadas este ano, 279 são no setor da educação. O que significa que as possibilidades de os alunos da escola pública chegarem e esta estar fechada são exponencialmente maiores do que no privado. .Neste cenário, que qualidade de Ensino pode dar a escola pública, mesmo nos grandes centros urbanos? Portugal já se transformou num país em que só os filhos de pais com mais rendimento têm a garantia de poder ter um ano completo de aulas. É um facto. E o elevador social na escola pública está, desgraçadamente, mais dias parado do que a funcionar. Noutros não se lhe pode chegar, porque o portão está fechado a cadeado..Já escrevi nestas linhas que não invejo a posição do ministro da Educação, Fernando Alexandre, tal a complexidade e magnitude da tarefa que tem pela frente. Além do cenário descrito no trabalho do DN, há ainda os indicadores internacionais sobre a Educação em Portugal - e, por associação, a avaliação sobre o nosso Ensino - que têm vindo a deteriorar-se. Vão desde os testes do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) aos Inquéritos sobre as Competências dos Adultos da OCDE (que mede literacia, numeracia e resolução de problemas). É grave, e não sou eu que o digo, são os números. Fernando Alexandre é um homem do Ensino e já sabia, de antemão, que o cenário era este quando aceitou ser o responsável por encontrar soluções para este caos. Não lhe invejo a posição, mas gabo-lhe a coragem. A Educação é o Vietname e o Afeganistão dos ministros em Portugal..No final da semana passada, à margem do programa da RTP Natal dos Hospitais, o Presidente da República defendeu uma espécie de continuidade nas políticas dos vários Governos que vão passando pelo poder. Não referiu especificamente os famosos “pactos de regime” acordados entre os partidos do arco do poder, mas apenas que quem entre não mude muito. “Era bom que cada vez que muda o Governo não mudassem coisas fundamentais na saúde, como aliás na educação”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. .Por mim, acho que há demasiados portugueses - não sei se influenciados pelas narrativas dos partidos em que votam - que se enquistaram em torno dos dogmas das qualidades intrínsecas, inabaláveis e inquestionáveis do SNS e da Escola Pública em Portugal. São, como é evidente para todos, falíveis. E precisam não de continuidade, mas de reformas profundas face ao modelo com que foram fundadas, o que existiu e que ainda existe. Mesmo que isso seja doloroso para o Governo do momento..Diretor-Adjunto do Diário de Notícias