Com as próximas eleições para os órgãos de governo local – dos municípios e das freguesias –, renova-se uma das maiores conquistas da democracia portuguesa: o poder de escolher diretamente quem cuida da nossa rua, da nossa escola, do urbanismo ou do trânsito.Segundo dados recentes da Fundação Francisco Manuel dos Santos, 84% dos portugueses têm uma imagem positiva ou muito positiva do poder local. A maioria sabe quem governa o seu município e reconhece o papel das autarquias na vida quotidiana, mesmo que não entenda muito bem como funcionam, no que, aliás, têm razão. Está na hora de rever o sistema de governo municipal, tornando os executivos mais funcionais e valorizando as assembleias municipais. Mas o impacto do poder local vai muito além da perceção. Nestes 50 anos de democracia, o poder local foi a principal força na luta para contrariar a concentração da atividade económica nas grandes cidades, em especial em Lisboa. Foram os municípios que lutaram para atrair investimento e fixar pessoas, que mantiveram emprego público, que promoveram produtos locais, que valorizaram o património, que dinamizaram a cultura. Foram eles que deram rosto à coesão territorial.Claro que houve excessos, como equipamentos públicos replicados por razões eleitorais, em vez de pensados para servir vários concelhos. Todos sabemos de um ou mais. Alguns até já foram reaproveitados – como aquele onde instalei, quando ministra, uma Loja de Cidadão.Mas é ao nível local que a política ganha nome e rosto. Mesmo nas grandes cidades, sabemos quem nos governa. É a essas pessoas que pedimos, que exigimos, que responsabilizamos –, até por áreas que não são da sua competência, como a saúde, a segurança ou a educação, precisamente aquelas onde 80% dos cidadãos defendem – com razão – que o poder local deveria ter mais intervenção e mais recursos para isso.As eleições locais são o tempo de olhar para as nossas causas de proximidade. A passadeira que falta na rua ou o passeio esburacado. O canto do bairro onde devia estar uma árvore e só há lixo. O parque em vias de degradação. O rio que não está aproveitado. As crianças que não têm creche gratuita nem que fazer nos tempos livres. O trânsito e o estacionamento caóticos. A insuficiência de transportes públicos. A atração de investimento, que podia ser mais eficaz. Os edifícios que estão a apodrecer, em cidades onde a habitação é muito cara, como em Coimbra. A resposta dos serviços da câmara, que podia ser mais rápida, com ajuda de um Simplex que nos ajudasse a “navegar” neles.É tempo de espreitar programas e promessas e, sobretudo, de conhecer os candidatos cara a cara. De sentir quem tem a determinação, a ambição, a capacidade de ouvir, de prestar contas, de governar com transparência. Porque a personalidade dos candidatos, e não somente os partidos, faz a diferença, e quem tiver mais votos é que vai ser presidente.Com informação, atenção e intuição, saberemos distinguir os melhores, os que queremos por perto nos próximos 4 anos – a cuidar de nós, da nossa rua, da nossa comunidade e da nossa terra. Ex-deputada ao Parlamento Europeu