A arte de reinventar o inventado
James Bond, criado por Ian Fleming, tem a sua primeira aparição num livro policial publicado em 1953. Caramba!
68 anos depois, temos então 26 Bonds, o original e mais 25 fabricados pela máquina do cinema americano. E o que mudou? Pouco.
O ator mudou, mas quase nada. Não. Não são 25, são muito menos.
O enredo? Sim também muda, mas talvez mude ainda menos... Não? Normalmente a trama gira em volta de alguém que rouba um objeto que tem a força suficiente para aniquilar o mundo e que é perseguido por outro alguém que quase no fim do filme salva a humanidade de uma catástrofe. Pelo meio este segundo alguém deixa ainda outro alguém caído de amores por si. Certo?
Mas podemos continuar nesta interminável lista de adaptações: 12 Sextas-Feiras 13, cinco Transformers, cinco Piratas das Caraíbas, três Indiana Jones que afinal passaram a ser quatro e está mais um programado para 2022, três Star Wars, que são os do meio, aos quais somaram mais três que são os iniciais e os últimos três que são depois dos três primeiros, aqueles que eram os do meio. Enfim...
Falo da arte da adaptação, da arte de criar a partir do que já foi criado. Falo da arte de reinventar o inventado. E isto não é coisa pouca!
A verdadeira pergunta é se serão os remakes uma falsa criatividade.
Não me parece! Antes pelo contrário. Parece-me ser muito mais doloroso criar a partir do que foi criado de forma continuada uma e outra vez. Parece-me muito mais exigente transformar o velho em novo, adaptando, subvertendo e combinando soluções que aparentemente não teriam relação.
Tudo o que fazemos é um remix de criações antigas. Verdade. Mas este remix dá origem ao novo, dá origem a outra criação.
Arrisco até dizer que, apesar de sinónimos, criar não é inventar, mas sim reinventar.
Cada uma destas reinvenções está mais que validada, diria eu, pois enche salas e salas de cinema, que é como quem diz, que fatura milhões! São também estas reinvenções que vemos nestas salas, que nos transportam por momentos para mundos irreais que tão bem nos fazem à alma.
E são estas viagens reinventadas que nos vão valendo neste mundo, que teimamos em consumir de forma desenfreada, todos os seus recursos naturais.
Designer e diretor do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia