Foi em nome da melhoria da eficiência que a ministra da Saúde justificou uma instrução, enviada às administrações hospitalares, determinando que, em 2026, a despesa deve ser contida — mesmo que isso implique uma redução na atividade assistencial, como cirurgias, consultas e exames. É possível que SNS possa ser mais eficiente, mas cortar recursos antes de o melhorar – o que exige medidas corajosas ao nível da sua gestão que a Ministra não anunciou – pode ser uma receita para o desastre. Eficiência é, em termos simples, a capacidade de alcançar objetivos com o mínimo de recursos — como tempo, dinheiro ou esforço — mas, quando aplicada de forma rígida e excessivamente técnica, pode comprometer a qualidade dos cuidados, desumanizar processos e privilegiar poupanças imediatas, gerando riscos futuros como o agravamento de doenças por falta de acompanhamento. Ao ouvir a ênfase dada pela Ministra à “eficiência”, não pude deixar de recordar a magnífica conferência de Moshe Vardi, reputado cientista da computação norte-americano, a que assisti no Porto, por ocasião dos 40 anos do Departamento de Ciência de Computadores. O tema era precisamente Resiliência versus Eficiência. Enquanto a eficiência resulta duma suposta adaptação ótima ao ambiente existente, a resiliência exige a capacidade de responder a alterações disruptivas — de recuperar de um choque ou de uma catástrofe. Em certo sentido, a eficiência é a otimização no curto prazo; a resiliência, por sua vez, é a otimização no longo prazo. O orador apresentou vários exemplos que ilustram esta diferença. Se nos focarmos apenas na eficiência num hospital, podemos não estar preparados para uma situação de pico, um desastre ou uma pandemia como a que vivemos recentemente. Se priorizarmos apenas a eficiência no comércio internacional — escolhendo locais onde os custos são mais baixos — corremos o risco de ficar sem bens essenciais em caso de crise nesse país. Também passámos por isso no início da pandemia e sabemos que há outros riscos que estamos a correr como, por exemplo, o facto de cerca de 63% dos semicondutores serem atualmente produzidos numa das regiões mais instáveis do mundo, Taiwan. Se desvalorizarmos regulações que promovem segurança e transparência nos sistemas informáticos em nome da eficiência e da inovação, podemos ser surpreendidos por falhas graves ou ataques cibernéticos. A lógica da eficiência tende a ignorar a redundância, a flexibilidade e a margem de segurança, considerando esses investimentos como desperdício. Contudo, nestes tempos de profunda incerteza e onde o individualismo se sobrepõe ao interesse coletivo, deveríamos pensar exatamente ao contrário: fazer da resiliência — e não da eficiência — o princípio orientador dos sistemas públicos e privados críticos, desde os tecnológicos até aos que sustentam a nossa vida, como a saúde.  Ex-deputada ao Parlamento Europeu