A Argélia, a França e a 'Hogra' foram com o coelhinho e o Pai Natal ao circo!

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É importante puxar ar para dentro, antes de se dizer hogra, pois os hagás só são mudos em português de Portugal. E o termo é importante para argelinos e restantes magrebinos, já que representa o acumular de humilhações, desconsiderações e os recalcamentos que ficaram do séjour francês no Magrebe, desde 1830, precisamente com a tomada de Argel.

Nesta véspera de Natal, a Assembleia Nacional do Povo, Câmara Baixa do Parlamento argelino, aprovou por unanimidade, uma lei que criminaliza a colonização francesa (1830-1962). A mesma inúmera crimes, que considera não prescreverem, como os testes nucleares, execuções extrajudiciais, prática generalizada de tortura física e psicológica, mais a pilhagem dos recursos. Eis a hogra resumida a letra-de-lei, sem alcance internacional. Não vincula/obriga França a nada, mas não faz mal, já que esta lei não é para franceses, é para argelinos! Porquê?

Perante as conclusões do Relatório Stora, trabalho encomendado por Macron ao conceituado historiador franco-argelino Benjamin Stora, em 2021, no âmbito de uma certa concórdia para a captação de votos magrebinos, para as presidenciais de 2022, concluiu o seguinte:

Em primeiro, é preciso repensar a História e a Memória e não apenas criar “leis de memória” (publicado em 2021!) e elabora, “as leis limitam a liberdade do Historiador ou impõem uma História comum artificial. É preciso abrir caminhos, des passerelles, e não reescrever a História Oficial dos dois lados”;

Segundo, as memórias francesas e argelinas, têm narrativas diferentes, opostas até, sendo preciso compreender as divergências para se progredir, ao invés da opção pela negação de factos e sofrimento(s);

Terceiro, criação de uma Comissão Memória e Verdade, mista, franco-argelina, para a abertura e análise conjunta de arquivos, registo cruzado de testemunhos, para um trabalho sério e concertado;

Em quarto, conclui-se teleologicamente, que os argelinos precisam de ouvir uma verdade sobre si próprios, dita pela boca dos franceses. O caminho para tal, foi descrito por Stora nestes três passos, sendo preciso primeiro, tudo repensar e redefinir em conjunto.

É neste âmbito que a “Lei Anticolonial deste Natal” faz sentido, com o roteiro definido em 2021 por um reputado franco-argelino e com o mesmo Presidente até maio de 2027, os argelinos estão simplesmente a ver o tempo passar e aproveitaram esta época de Natal, mais propícia ao diálogo e às boas vontades, para subirem ao palanque e gritarem, bem alto e com sotaque alentejano, “falém connosco porra”!

Votos raulescos de um 2026 em abundância para Todos/as.

Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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