Este sábado e domingo a 14.ª Convenção Nacional do Bloco de Esquerda vai eleger, entre cinco moções, o número de delegados à Mesa Nacional. Na prática, ficará garantida a sucessão de Mariana Mortágua, que está há dois anos e meio no cargo de coordenadora nacional do partido. A economista, presente em quatro legislaturas como deputada, avançou com um pedido de demissão que a larga maioria do partido não pedia. A redução do Bloco para uma só parlamentar em maio e a eleição de apenas uma vereadora, no caso em Lisboa, nas Autárquicas foram resultados reconhecidamente abaixo do que se perspetivava e, tendo a atual Direção centrado as decisões políticas, viu a oposição lamentar a falta de espaço ao debate interno e às bases. Essas são as principais reivindicações das quatro moções opositoras.Por isso, José Manuel Pureza será eleito sucessor, já que a Moção A terá forma de continuar a dominar a Mesa Nacional (tem mais de 600 subscritores), recebeu mais de 79% dos votos, nomeando posteriormente a Comissão Política. Um dos primeiros atos de democracia interna pautou-se pela convocatória aberta a subscritores de outras moções para acompanharem reuniões da Mesa e Comissão Política, o que foi saudado por essa mesma oposição. Agora, a reaproximação das localidades e a angariação de militantes são metas claras e, como efeito, haverá a criação de uma figura de secretário da organização, que terá como meta dialogar com as estruturas locais. Será Isabel Pires, ex-deputada e grande responsável pela organização autárquica do partido no último sufrágio, a assumir o cargo que, hierarquicamente, a colocará no terceiro lugar da pirâmide. A questão da paridade não é de importância menor no Bloco, atendendo a que Pureza passará para coordenador e Fabian Figueiredo representará o partido no Parlamento. A nomeação de uma secretária de organização responderá à crítica generalizada da centralização excessiva do partido nos órgãos de comunicação social, agravada pela representatividade única parlamentar. “Termos o plano de distribuir responsabilidades na Isabel Pires visa dinamizar concelhias e distritais pelo país e consagrar, formalmente, o reconhecimento de uma necessidade de articulação interna e de aproximação às bases”, explica Alexandre Abreu, da Moção A, afirmando que “não há raciocínio específico por ser uma mulher”, vincando, sim, que Isabel Pires “tem tido responsabilidades e proximidade local”. Lembrando que Mariana Mortágua não teve a saída pedida por nenhuma das moções, apresenta os pontos fortes da próxima solução. “José Manuel Pureza tem características ideais para coordenação do Bloco: conhece o partido, muita experiência política, grande capacidade de comunicação e esforça-se pelo diálogo”, elogia. .A Moção S é a alternativa mais votada à Moção A. Nesse sentido, vinca a responsabilidade de construir propostas. Promete contactos para que todas as moções possam estar representadas nos órgãos dirigentes e, vincando a necessidade de estatutos mais democráticos, destaca a limitação de mandatos. Nuno Pinheiro, ao DN, considera que “Isabel Piresjá desempenha funções” semelhantes ao cargo que a Moção A sugere. Lembra também “desorientação”, até pela mudança de discurso quanto à rotatividade no deputado. Agora, o Bloco assume que é Fabian Figueiredo que substitui Mariana Mortágua a partir de janeiro. A Moção S apresentará listas a todos os órgãos nacionais, tendo como figuras Adelino Fortunato, professor universitário e dirigente do BE, e Alexandra Vieira, professora, deputada por Braga de 2019 a 2021 e ativista pelos Direitos Humanos.A Moção H não tem porta-voz fixo. Carlos Carujo di-lo ao DN e justifica que “a figura de coordenador não existe nos estatutos”, logo não comenta a solução da Moção A em torno de Pureza, vincando que é necessária uma “refundação abrindo-se à sociedade, democratizando funcionamentos e mecanismos participativos” e que não basta “alterar caras na Direção.” “O Bloco tem de ser uma alternativa existente, temos de nos distanciar da ideia de ser uma muleta do PS, porque nascemos para ser anticapitalistas. É preciso mesmo a radicalização”, advoga Carujo, que promete subscrever propostas a serem discutidas, mesmo que de outras moções, para que haja debate. Olham com ambição para a comissão de direitos. A solução de uma secretária para aproximar as bases não é bem vista. “Esta proposta sobrepõe-se ao trabalho coletivo da próxima Direção, mais uma vez estabelecem, à partida, uma divisão de tarefas sem conversar com outras moções. Corresponde a uma centralização e profissionalização das ligações locais”, explana.A Moção B engloba vários contributos de outras plataformas. Vai agora à Convenção apontando como principais propostas a reorganização da democracia interna e aproximação às bases do partido. Quer diluir a liderança de uma só pessoa. Por isso, contesta o cargo de coordenador, “um órgão além da Comissão Política” e, agora, com a figura de secretariado, Ana Sofia Ligeiro diz que “há um transporte para uma troika no partido devido à distribuição de funções”. “Lamento que o papel da mulher seja o de secretariado”, acrescenta, considerando que Pureza “não traz nada de novo” e que a Moção A “opta pela continuidade.”A Moção C é a única que reconhece possibilidade de “aliança com a Moção A”. O grupo com forte implantação no Alentejo, que não supera os 20 delegados, diz que “seria frutuoso haver inerências das distritais e concelhias” e assumir “estatutariamente a criação de uma juventude do Bloco.” A Moção C contesta as tendências Rede Anticapitalista ou Esquerda Alternativa, que “asfixiam a democracia e a participação das bases.” Lembra que “houve uma desmobilização evidente e que se nota uma enorme abstenção para esta Convenção.” Pede a recusa da NATO também. “Pureza é um bom nome, representou-nos bem. Não descartamos apoiá-lo”, explica José Carita. Tal como a S e B, não apresenta candidatos à coordenação.O que pensam as moções do Bloco?Moção AA Moção A, a mais representada no partido e que ditará a composição principal da Mesa Nacional, tem como um dos primeiros atos de democracia interna a convocatória a outras moções para acompanharem as reuniões da Mesa e Comissão Política. Agora, a reaproximação das localidades e a angariação de militantes são metas claras e, como efeito, haverá a criação de uma figura de secretário da organização, que terá como meta dialogar com as estruturas locais.Moção BA Moção B tem como principais propostas a reorganização da democracia interna, a aproximação às bases do partido e território envolvente. Quer diluir a figura do coordenador, por considerar que o cargo não pertence aos estatutos. Critica ainda a figura do secretário e distribuição de funções, apontando a centralização dos trabalhos de base. Ana Sofia Ligeiro deixa a crítica de que as indicações voltaram a ser dadas pela Moção A antes da discussão em Convenção. Quanto a Pureza são claros. “Não traz nada de novo. É continuidade, não transformação”, descreve Ligeiro.Moção CA Moção C assume “uma possível aliança com a Moção A”, mas também “há possibilidade de concorrer sozinha”, segundo diz José Carita Monteiro. O grupo com forte implantação no Alentejo, que não supera os 20 delegados, diz que “seria frutuoso haver inerências das concelhias” e assumir “estatutariamente a criação de uma juventude do Bloco.” A Moção contesta as tendências, que “asfixiam a democracia e a participação das bases.” Pede a recusa da NATO.Moção HConcordando com vários pontos da Moção B, Carlos Carujo descreve que tem de haver mais participação interna e que o Bloco se deve afastar do PS, para ser “partido de alternativa”, optando pela “radicalização”. Discordam do papel do coordenador e secretário, valorizando que as funções não devem estar meramente numa pessoa. “Ter uma secretária é sobrepor-se ao trabalho conjunto”, concretiza.Moção SA Moção S é a alternativa mais votada à Moção A. Nesse sentido, vinca a responsabilidade na construção de propostas. Promete contactos para que todas as moções possam estar representadas nos órgãos dirigentes do partido e, vincando a necessidade de estatutos mais democráticos, destaca a limitação de mandatos, o reforço dos órgãos de base, procurando aumentar a representatividade do país. Critica a “falsa ideia de novos modelos organizativos.” .Mariana Mortágua não se recandidata à coordenação do Bloco de Esquerda e deixa Parlamento após Orçamento.Catarina Martins reúne com as moções do Bloco de Esquerda.Marisa Matias explica opção da Moção A por Pureza: "Constrói alternativas dentro e fora do Bloco".Bloco de Esquerda: José Manuel Pureza muda perfil sem liderar revolução ideológica